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André Viana Custódio
BrasilAshoka Fellow desde 2002

André Viana Custódio, advogado, está engajando empresas, famílias e governos em uma revisão crítica da cultura brasileira para colocar um novo valor no desenvolvimento da juventude e facilitar a implementação e aplicação de leis eficazes de trabalho infantil.

#Tabaco#Infância#Trabalho infantil#Brasil#Florianópolis#Cultura do brasil#A criança#Industria do tabaco

A Pessoa

O avô de André tinha um negócio que manteve a família rica até a sua morte. Como nenhum de seus filhos teve escolaridade suficiente para assumir os negócios da família, ela faliu e os parentes de André se espalharam pelo Brasil para ganhar a vida. A mãe de André ficou profundamente emocionada com esta experiência e, apesar da falta de recursos, criou André com grande ênfase no valor da educação. André foi um líder em sua escola e presidente do corpo discente. Suas habilidades de liderança lhe renderam um emprego como locutor de rádio e colunista de um jornal local. André mudou-se para a maior cidade do sul do Brasil, Porto Alegre, para encontrar novas oportunidades. Aqui, ele ficou impressionado com as vastas desigualdades sociais e seu impacto sobre as crianças. André abraçou o direito como ferramenta de solução de problemas sociais e voltou a Santa Catarina para estudar Direito em 1995. Durante as férias no interior do estado, André se deparou com uma cidade onde 90 crianças trabalhavam em uma fábrica de prendedores em regime de escravidão ganhando dinheiro $ 5 por mês. Chocado com as condições, ele ficou lá por sete dias, entrevistando as crianças. Alguns já haviam perdido o uso das mãos por anos de movimentos repetitivos. Outros acordaram com pesadelos, ouvindo os sons horríveis de máquinas de fábrica, mesmo quando dormiam. Ele também entrevistou pais que não sabiam como era o dia de seus filhos até que André apresentou um vídeo de suas situações terríveis. A empresa, uma das maiores exportadoras de prendedores de roupa do país, permaneceu antipática. André passou 36 horas direto escrevendo uma reportagem para um jornal local. O relatório foi posteriormente publicado em um importante jornal nacional. No dia seguinte, a Polícia Federal fechou a fábrica. Este foi um momento incrivelmente significativo para André, que o impulsionou no caminho de se tornar uma líder nacional na luta contra o trabalho infantil e na proteção dos direitos da criança. Enquanto cursava Direito na Universidade de Santa Catarina, André foi fundamental para a criação do Centro de Estudos Jurídicos e Sociais da Criança e do Adolescente. Após o curso de Direito, André optou por aliar seus interesses pessoais à experiência profissional, focando nas preocupações com o trabalho infantil e os direitos de todas as crianças e adolescentes, levando essas questões ao conhecimento de todos os níveis da sociedade.

A Nova Idéia

André está construindo a participação cidadã para garantir um futuro aos mais jovens da sociedade. Com base nos resultados de uma investigação sobre as indústrias onde as crianças estão trabalhando em maior número, André força vários setores da comunidade, incluindo empresas, pais, escolas e governos municipais, a confrontar o papel que desempenham no prolongamento do trabalho infantil e a considerar os custos sociais de suas ações. André força uma coalizão de parceiros improváveis para formar uma rede de cidadãos defendendo a mudança nas políticas de educação pública e supervisionando oportunidades alternativas de desenvolvimento de jovens. A rede também facilita o debate público, a reflexão e a orientação sobre tópicos associados à proteção e ao desenvolvimento infantil.

O problema

O trabalho infantil cresceu rapidamente, apesar da legislação que busca evitá-lo. De acordo com o Instituto Brasileiro de Estatística Geográfica, aproximadamente 7,5 milhões de crianças brasileiras menores de 18 anos trabalhavam em 1990. O UNICEF estimou que o número de crianças trabalhando aumentou para 9,3 milhões em 1996. Esse aumento é um efeito do tabaco brasileiro e o surgimento das indústrias de mineração nos mercados globais. Essas empresas cortaram custos por meio do trabalho infantil. Em comparação com o trabalho adulto, o trabalho infantil é mais barato, mais facilmente controlado e, em muitos casos, mais produtivo. O trabalho infantil é um problema profundamente arraigado no tecido social e econômico do Brasil. Embora as famílias freqüentemente mencionem a necessidade econômica de seus filhos trabalharem, as crianças não contribuem significativamente para a renda familiar. No entanto, a prática persiste porque a sociedade brasileira continua valorizando o trabalho infantil como benéfico ao desenvolvimento da criança. Em contextos em que a escolaridade é normalmente de apenas quatro a cinco horas por dia e as creches ou creches alternativas acessíveis são escassas, os pais acham preferível mandar seus filhos para a fábrica ou campos em vez de permitir que fiquem ociosos nas ruas. Além disso, o trabalho é visto como mais valioso do que o brincar, mesmo para crianças pequenas, porque lhes ensina responsabilidade desde cedo. O fato de a maioria dos pais não ter ideia do que seus filhos realmente fazem no trabalho, ou dos perigos a que estão expostos diariamente, só agrava ainda mais esse problema. Os empregos dados a crianças podem apresentar riscos ocupacionais significativos em um momento em que são mais vulneráveis a toxinas ou lesões por estresse repetitivo. Em uma fábrica de prendedores de roupa que emprega crianças por causa de suas mãos pequenas, danos físicos permanentes são comuns entre as crianças depois de apenas alguns meses de trabalho. Nos campos de tabaco, os níveis infantis de ingestão tóxica de pesticidas são mais do que o dobro dos níveis de adultos porque as crianças não recebem equipamentos de proteção. As toxinas atuam como depressores, contribuindo para o alto índice de suicídio entre crianças trabalhadoras do tabaco. A saúde e o desenvolvimento das crianças não são, de forma alguma, as únicas vítimas do trabalho juvenil. À medida que mais crianças trabalham, a taxa de desemprego de adultos no Brasil aumenta. Crianças trabalhadoras freqüentemente abandonam a escola antes de poderem ler e escrever. Em um clima econômico que exige trabalhadores mais qualificados e mais flexíveis, uma força de trabalho de jovens sem educação pode causar uma paralisação duradoura do desenvolvimento do Brasil, em termos de economia, inovação e sociedade civil. Embora haja consciência da necessidade de reforma do trabalho infantil, atualmente não há mecanismos para realizá-la. O fim da ditadura militar no Brasil há duas décadas trouxe mudanças para o governo central, mas a participação do cidadão no nível municipal mudou pouco. Por exemplo, a adoção do Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990 trouxe importantes avanços no âmbito judicial dos direitos da criança. No entanto, a implementação efetiva das leis e o consequente respeito aos direitos descritos no estatuto foram prejudicados pela falta de adesão de famílias, autoridades locais e empresas, todos os quais carecem de informações, know-how e vontade de acabar com o trabalho infantil.

A Estratégia

Para reformar uma cultura que tolera o trabalho infantil, André está mudando a forma como todos os setores da sociedade entendem e tratam o assunto. Sua estratégia é colocar em prática as peças que faltam para mobilizar as organizações de cidadãos e fazer as mudanças acontecerem em nível local. As organizações de cidadãos também podem promover alternativas para os jovens contribuírem com a sociedade. André começou em nível estadual. Ele formou um Fórum Estadual de Erradicação do Trabalho Infantil em Santa Catarina, reunindo 60 representantes de organizações do setor civil, governo e empresas para propor políticas contra o trabalho infantil. O sucesso dessa iniciativa levou à formação de um Fórum Nacional pela Erradicação do Trabalho Infantil por uma coalizão de organizações, liderada por André e formada por representantes dos 27 estados brasileiros. Depois de facilitar este comitê nacional, André se concentrou na indústria do tabaco, a fonte dos casos mais difundidos e prejudiciais de trabalho infantil. Ele usou seu treinamento em direito e ciências sociais para documentar 500.000 casos de crianças que trabalhavam em campos de tabaco em 1998. André reuniu vários atores para considerar os problemas, os principais participantes e as estratégias potenciais para criar mudanças. Em vez de ameaçar as poderosas tabaqueiras, ele convidou a maior, a Souza Cruz, a avaliar seu próprio papel na questão do trabalho infantil, implementar iniciativas de auto-reforma e servir de modelo de responsabilidade corporativa para os concorrentes da empresa. Ele convenceu a Souza Cruz a aceitar as restrições do Fórum Nacional contra o trabalho infantil, resultando na proibição do trabalho infantil por todas as 13 empresas brasileiras de tabaco. Além disso, o fórum criou um instituto para ajudar na transição de crianças e suas famílias das plantações de tabaco para as escolas. Por meio de seu trabalho com o Fórum Estadual, André identificou os 16 municípios catarinenses que destinaram recursos para o combate ao trabalho infantil, levando à formação de grupos de cidadãos em cada localidade. O primeiro grupo foi criado em Lauro Muller, município mineiro do interior catarinense com 14 mil habitantes. Ele foi convidado a visitar a cidade depois que um secretário da cidade o ouviu falar sobre o trabalho infantil. Lá, ele reuniu pessoas de toda a comunidade para analisar criticamente as despesas sociais do trabalho infantil, a degradação ambiental da mineração extrativa e a falta desproporcional de oportunidades para os jovens. Este mini-fórum abriu um diálogo entre membros da comunidade que nunca haviam se reunido anteriormente. Apenas duas semanas após o fórum, 7.000 participantes marcharam em apoio a um esforço municipal para banir o trabalho infantil e fornecer alternativas para os jovens. O grupo de cidadãos fez alianças com a Secretaria de Saúde, a Polícia Militar e o Conselho de Representantes do município. A aliança resultou na criação do Movimento Municipal em Defesa da Criança, do Adolescente e da Juventude. O prefeito de Lauro Muller, ex-empregador do trabalho infantil, está direcionando a arrecadação de fundos para o desenvolvimento de um centro recreativo juvenil. O trabalho infantil tornou-se o ponto focal de uma estratégia muito mais ampla para promover a participação em todos os níveis na melhoria da qualidade de vida de todos. Por meio do Fórum Nacional que ajudou a criar, André pretende espalhar sua estratégia pelo país. André está fazendo com que as comunidades reflitam coletivamente sobre o problema do trabalho infantil, proponham soluções e tirem força da vontade das pessoas de implementar mudanças em nível local. Seu método serve como um catalisador para reunir membros da comunidade e ajudá-los a reconhecer soluções por meio de sua participação na formulação de políticas comunitárias. Ele lhes dá um senso de responsabilidade para resolver os problemas da comunidade. Dessa forma, a mobilização em torno do trabalho infantil se torna um importante ponto de partida para a construção da participação do cidadão que conecta membros da comunidade, governo e empresas.