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Laury Cullen
BrasilAshoka Fellow desde 2002

Laury Cullen Jr. criou um modelo agrícola que é ambientalmente sustentável e que oferece oportunidades de produção e propriedade para preencher a lacuna nas disputas arraigadas no Brasil sobre direitos à terra.

#Agricultura#Agricultura sustentável#Land Institute#Reforma agrária#oceano Atlântico#Biodiversidade#Café#Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

A Pessoa

Amante do ar livre, Laury passou a infância acompanhando o pai em viagens de caça nas manchas remanescentes de Mata Atlântica no estado de São Paulo. Uma viagem mudaria a vida de Laury. Eles haviam atirado em uma corça e Laury ficou horrorizada ao descobrir um fulvo na barriga do animal prestes a nascer. Nunca mais caçou e dedicou sua vida à conservação, lutando contra as práticas destrutivas do homem para salvar a Mata Atlântica e sua fauna. Quase no final dos estudos universitários em silvicultura, Laury veio ao Pontal do Paranapanema, no extremo sudoeste de São Paulo, para realizar estudos sobre migração da fauna e proteção de espécies ameaçadas de extinção no Parque Estadual do Morro do Diabo. Lá, ele colaborou em estudos sobre o mico-leão-da-cara-preta em extinção com o pesquisador Claudio Padua. Posteriormente, ao lado da Ashoka Fellow Suzana Padua, ajudou a estabelecer o IP, hoje referência nacional em estudos e educação ambiental aplicada. A mudança de Laury para o Pontal no início da década de 1990 coincidiu com uma onda de protestos e conflitos entre o Movimento dos Sem Terra e os proprietários de terras sobre títulos e uso da terra. Pego no fogo cruzado foi o maior pedaço remanescente de Mata Atlântica na região. Laury percebeu rapidamente que, para salvar a Mata Atlântica, era preciso "salvar" as pessoas cujo sustento depende da terra. A experiência de Laury com sistemas agroflorestais o ajudou a ser criativo ao lidar com as questões de conservação. Ele passou a apreciar como as árvores podem ser, ao mesmo tempo, a fonte de valor ambiental, espiritual e econômico. Durante mais de 10 anos morando no Parque Estadual do Morro do Diabo, Laury conquistou grande respeito e confiança de ambos os lados da batalha pela terra. Ele usou sua sede de conhecimento como uma ferramenta transformadora, introduzindo novas técnicas florestais e práticas agrícolas para beneficiar todas as partes. Ele atua como instrutor do Smithsonian Institution, participa anualmente de cursos de campo em todo o mundo, realiza cursos e treinamentos em biologia da conservação no Brasil e atua face a face com famílias de agricultores do Pontal do Paranapanema.

A Nova Idéia

Por meio de seus esforços para preservar os pedaços remanescentes da Mata Atlântica, Laury se deparou com o conflito humano pelo direito à terra. Entre as políticas míopes do governo de reforma agrária e a pressão das famílias sem terra, os fragmentos de floresta estavam desaparecendo e a qualidade da terra ao redor deles se deteriorando. Ele percebeu que em toda a conversa sobre reforma agrária e títulos, elementos cruciais não estavam sendo abordados: a saúde, a produtividade e a sustentabilidade da própria terra. Para mudar isso, Laury criou um programa para introduzir sistemas agroflorestais que aumentam a produção e a conservação dentro e ao redor dos assentamentos de reforma agrária. Ele trabalha com agricultores em assentamentos de terras rurais e membros do chamado "Movimento dos Sem Terra" para introduzir sistemas agroflorestais, pequenas ilhas de terras florestadas que abrigam safras economicamente viáveis & # 150; por exemplo, café orgânico de sombra. Do ponto de vista ecológico, essas "ilhas de café" florestadas ajudam a restaurar a paisagem e formam trampolins que permitem o "fluxo genético" de populações de animais e plantas entre fragmentos florestais isolados. Do ponto de vista social, os sistemas agroflorestais aumentam a produtividade da terra, a renda familiar e a segurança alimentar. Por meio de seu programa, Laury está demonstrando como introduzir a conservação da terra e a produção sustentável nas políticas de reforma agrária para reduzir o conflito e beneficiar os agricultores e as florestas.

O problema

A reforma agrária e a redistribuição no Brasil, cujo propósito tem sido consertar uma longa história de erros, podem estar criando tantos problemas quanto estão tentando resolver. Embora as táticas do governo para redistribuir terras e reassentar os sem-terra tenham sido míopes e muitas vezes ineficazes, as táticas dos ativistas sem-terra têm sido de confronto, muitas vezes ilegais e às vezes violentas. E tanto o governo quanto o povo, em seus esforços às vezes comuns, às vezes divergentes, para colocar mais pessoas pobres em suas próprias terras, aceleraram o declínio ecológico de um ambiente natural frágil e vital. As invasões e ocupações de grandes propriedades por membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST ou "Movimento dos Sem Terra") resultaram em conflitos violentos e mortes, ilustrando o conflito humano pelo direito de viver e produzir na terra. O órgão governamental responsável pela reforma agrária, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), reivindica avanços significativos nos últimos quatro anos no reassentamento de pequenos agricultores informando que um número recorde, mais de 100 mil famílias, foram assentadas em redistribuídas terra em 2000. No entanto, a longa posse da terra e as taxas de sucesso para os pequenos agricultores avançaram pouco. O governo é responsável por fornecer treinamento técnico e apoio aos agricultores recém-assentados. Os programas governamentais oferecem técnicas agrícolas convencionais, mas o sucesso dessas técnicas depende, em última análise, de grandes quantidades de insumos técnicos (como irrigação, fertilizantes e safras especializadas), poucos dos quais estão genuinamente disponíveis para pequenos agricultores pobres. No conflito pela terra, as questões de preservação ambiental e a saúde da própria terra foram relegadas para segundo plano. O foco do conflito entre o Movimento Sem Terra, grandes proprietários de terras e órgãos do governo nos últimos anos tem sido uma extensão de terra no canto sudoeste do estado de São Paulo chamada Pontal do Paranapanema. A Conservation International também citou esta região por seu nível crítico de biodiversidade. Até a década de 1940, o Pontal era totalmente coberto pela Mata Atlântica, um ecossistema tropical rico em biodiversidade que antes se espalhava continuamente pela costa atlântica do Brasil. Após séculos de uso destrutivo da terra, apenas 5% dos 1,2 milhão de quilômetros quadrados originais da Mata Atlântica permanecem, uma quantidade dispersa em parcelas fragmentadas. Em regiões como o Pontal do Paranapanema, hoje uma das regiões mais pobres do estado de São Paulo, a história de ocupação irrestrita de terras e parcelamento agressivo e desmatamento para pecuária levou a uma redução ainda mais drástica da floresta, deixando apenas 1,85 por cento de sua cobertura original. A maior parte remanescente é o Parque Estadual do Morro do Diabo, com 37 mil hectares. Fragmentos espalhados em fazendas e assentamentos agrários rurais totalizam 15.000 hectares adicionais. O parque e os fragmentos de floresta abrigam populações ameaçadas de fauna e flora únicas e críticas, incluindo as maiores populações conhecidas do mico-leão-preto, um dos primatas mais ameaçados do planeta. As populações de fauna e flora localizadas nesses remanescentes florestais requerem "fluxo genético" para sobreviver. Esse fluxo ocorre efetivamente apenas por meio da troca de material genético entre subpopulações isoladas. Embora a região, conforme definido legalmente como Território da Mata Atlântica, esteja sujeita a mandatos de conservação, as atuais pressões humanas e a falta de políticas públicas eficazes têm contribuído para a deterioração acelerada. Atualmente, o Pontal vive uma segunda fase de ocupação territorial liderada por grupos de trabalhadores sem terra organizados no Movimento Sem Terra. Trabalhadores sem terra, atraídos por grandes extensões de terras legadas, mas essencialmente sem título, chegavam ao Pontal para ocupar as terras e buscar títulos de acordo com as leis de reforma agrária. Nos últimos anos, essa migração intensa e a pressão sociopolítica levaram ao aumento do conflito, fazendo com que o Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP) renegociasse muitas das grandes propriedades para a reforma agrária. Como resultado, o governo assentou 4.500 famílias no Pontal, ocupando 38.000 hectares. Esses novos títulos são normalmente concedidos para as terras de pior qualidade nas periferias de grandes propriedades e, portanto, mais próximas de fragmentos de floresta. Mais de 1.500 famílias adicionais estão acampadas ao longo de rodovias e fazendas aguardando títulos de terra. Como conseqüência, novas colônias de famílias de agricultores estão cultivando terras ao longo das extremidades dos fragmentos florestais ou "abraçando" as últimas ilhas de biodiversidade da Mata Atlântica. Os Assentamentos Rurais Ribeirão Bonito e Água Sumida, ambos no entorno do Parque Estadual do Morro do Diabo, são bons exemplos da dinâmica de ocupação do solo na região. Foram assentadas trezentas e vinte famílias de pequenos produtores, cada família com um lote de 15 hectares. Metade do lote é normalmente utilizada para agricultura de subsistência (milho, algodão, mandioca, arroz, feijão) e a outra metade para a pequena produção de leite. Por causa da má conservação do solo e do manejo inadequado da terra, o cultivo das lavouras e as atividades leiteiras têm baixos rendimentos. Portanto, em vez de ser uma resposta a anos de luta pela terra, os assentamentos mal permitem que as famílias atendam às suas necessidades básicas de subsistência.

A Estratégia

A abordagem de Laury para preservar os fragmentos florestais remanescentes da Mata Atlântica na região do Pontal do Paranapanema é mudar a forma como os agricultores dos assentamentos interagem e usam as terras ao seu redor. O primeiro passo foi combater a falta de valorização da floresta e começar a proteger os fragmentos existentes. O desafio inicial de Laury era superar o ceticismo e a desconfiança que os agricultores sentiam em relação à preservação ambiental. Ele teve sucesso ao longo de anos de visitas frequentes, conversas e interações com os líderes das comunidades recém-assentadas. Uma vez estabelecido o nível de confiança e segurança, Laury e a equipe do Instituto de Estudos Ecológicos (IP) começaram a implementar o Projeto “Abraço Verde” para conectar sistemas agroflorestais, educação ambiental e reflorestamento em parceria entre o estado, o Movimento Sem Terra e IP. O Projeto Abraço Verde consiste em cursos de capacitação no Parque Estadual do Morro do Diabo para famílias recentemente assentadas em assentamentos de reforma agrária no entorno do parque. Usando uma metodologia participativa e prática, os participantes do curso aprendem a coleta de sementes, o crescimento de mudas e o cultivo de espécies mistas no viveiro do parque. Para promover a continuidade e a replicação do projeto, líderes assentados aprendem a desenvolver creches comunitárias. Desde a implantação do projeto, em 1998, 520 homens e mulheres de 205 famílias, além de técnicos e lideranças locais, participaram de cursos tanto de noções básicas de implantação de sistemas agroflorestais em suas terras quanto de técnicas de reflorestamento. Como resultado, 120 famílias estão agora envolvidas, dedicando um de seus 15 hectares a sistemas agroflorestais para criar um amortecedor, ou "abraço verde", em torno dos fragmentos florestais. Além disso, 11 viveiros comunitários foram instalados por famílias em assentamentos rurais em toda a região do Pontal, com capacidade para produzir 10 mil mudas por ano. Os viveiros funcionam como pólos tanto de disseminação da cultura da agroecologia na região quanto de estímulo à participação de outras famílias nos assentamentos. Uma vez que o Projeto Abraço Verde estava em andamento, Laury buscou novas técnicas de cultivo de terras, de modo a trazer benefícios econômicos imediatos para os agricultores, preservando ativamente a floresta e ligando os fragmentos florestais restantes. Ele se voltou para o café, considerada uma das atividades agrícolas mais importantes para a população rural e para a economia de muitos estados brasileiros. Enquanto o cultivo de café padrão (utilizando agrotóxicos e monocultura) causa danos ambientais e instabilidade para os trabalhadores rurais, o café orgânico de sombra alternativo utiliza recursos naturais e tecnologia apropriada de forma eficaz, gerando renda e mantendo a biodiversidade. Embora o Brasil seja o maior produtor mundial de café, entrega uma quantidade insignificante de café orgânico que tem um valor crescente no mercado mundial. Laury estabeleceu o café orgânico cultivado à sombra como o principal produto e o fulcro para a promoção da agricultura sustentável em assentamentos rurais. Laury incentivou os agricultores assentados a começarem a cultivar ilhas com florestas onde o café pode ser plantado sob a cobertura de espécies de árvores nativas. Essas ilhas de café melhoram as paisagens e fornecem "trampolins" para a migração de espécies e dispersão de sementes, principalmente por pássaros, morcegos e insetos polinizadores. Ao criar uma série de ilhas, Laury está construindo corredores ecológicos que unem trechos de floresta. O resultado é um aumento do fluxo genético entre populações isoladas de flora e fauna nos fragmentos florestais. A proteção e expansão da floresta também traz outros benefícios, incluindo a conservação de bacias hidrográficas e do solo. O agricultor também se beneficia com o aumento da longevidade das terras cultivadas, menores custos de produção devido à diminuição dos insumos, produção gratuita de fertilizantes, produtos diversificados com mercado diferenciado e maior renda. Desde janeiro de 1998, Laury se reuniu e discutiu o projeto com as comunidades locais. Quarenta e nove famílias demonstraram interesse em participar imediatamente e em implementar o modelo de produção de café em pelo menos um hectare de suas parcelas. Laury já implantou um programa piloto com cinco famílias no assentamento Ribeirão Bonito, com resultados positivos significativos. Seu plano é expandir para 95 famílias adicionais, com média de uma cada. Ao final de três anos, 100 hectares estarão produzindo café à sombra. Laury conseguiu obter um compromisso da fundação corporativa de uma empresa líder de cosméticos para financiar essa expansão. Para implementar o reflorestamento em terras fora dos assentamentos, mas parte de grandes propriedades, Laury planejou uma parceria sem precedentes entre os proprietários e os sem-terra que serve como prova de sua capacidade de criar resultados ganha-ganha para grupos oponentes. De um lado está um grande proprietário que, de acordo com as leis de conservação do Território da Mata Atlântica, deve manter 20% de suas terras com cobertura florestal original. Do outro lado estão membros do Movimento Sem Terra acampados e aguardando títulos de terra, sem meios para alimentar suas famílias. Para uni-los, Laury negociou a ocupação pacífica de uma parte da propriedade por trabalhadores sem-terra que prestarão um "serviço" de reflorestamento para que o proprietário não pague multas. Em contrapartida, os agricultores cultivam a terra em um sistema agroflorestal que alimenta suas famílias e faz o reflorestamento com espécies nativas. Após três anos, tempo médio para a outorga dos títulos de propriedade, os agricultores "sem-terra" saem do latifúndio com um canteiro de mata no rastro e levam embora um conjunto de técnicas de agricultura sustentável que garantirão o sucesso e a permanência em seus. terra recém-titulada. Laury planeja usar o sucesso atual e futuro do projeto para negociar com as agências federais e estaduais responsáveis pela reforma agrária (por exemplo, INCRA e ITESP). Sua esperança é criar políticas públicas para promover sistemas agroflorestais sustentáveis para assentamentos rurais localizados próximos ou ao redor de fragmentos florestais remanescentes de importância ecológica. Ele planeja replicar esse sistema em outras áreas do Brasil onde a reforma agrária está ameaçando a biodiversidade local. Para isso, ele prevê construir um Centro de Agroecologia no Pontal para trazer lideranças de assentamentos de todo o país para treiná-los para replicar seu modelo. Ao difundir sua ideia, Laury pretende mudar o paradigma de preservação da Mata Atlântica ao colocar o trabalhador rural no centro da conservação da terra.