Maria da Graça Mendes de Abreu
BrasilAshoka Fellow desde 1990

Maria Mendes Abreu, depois de anos estudando literatura infantil e lecionando no ensino fundamental, está atacando as raízes do analfabetismo ao treinar professores para olhar para as tarefas de ler e escrever com os olhos das crianças.

#Reforma educacional#Crianças e Jovens#Jardim da infância#Brasil#Educação primária#Escola primária#Ginásio#Escola#Educação#Professor

A Pessoa

Nascida em Portugal em 1942, Maria fez graduação e pós-graduação em Letras e Teoria Literária na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Desde 1966, leciona regularmente português, teoria literária e literatura brasileira e infantil na PUC. Profundamente interessada no ensino fundamental, passou a coordenar cursos de formação de professores na rede pública paulista em meados da década de 1970, com foco principalmente em leitura e idiomas. Ela publicou vários artigos sobre educação primária e escreveu e traduziu vários livros infantis.

A Nova Idéia

Segundo Maria, muitas crianças brasileiras não sabem ler ou gostar de livros porque a maioria dos professores não sabe dar vida à palavra escrita para seus alunos. Para resolver o problema, Maria projetou uma metodologia simples, mas inovadora para a reeducação de professores, chamada rever (que significa "olhar ou ver novamente"). A metodologia treina educadores para ensinar leitura usando linguagem, lógica e símbolos que seus alunos podem entender prontamente. O resultado é que alunos e professores ganham um novo entusiasmo pela tarefa e se tornam leitores mais competentes, criativos e críticos no processo.

O problema

Por que atender a uma necessidade tão básica constitui uma inovação no Brasil? Para entender, é preciso olhar para o sistema educacional do país. Embora a frequência escolar tenha disparado nas últimas três décadas, quase 26% dos brasileiros ainda são analfabetos. Para cada 1.000 crianças que ingressam no ensino fundamental, apenas 107 terminam e a cada ano 600.000 brasileiros chegam aos 15 anos sem saber ler ou escrever. Vários fatores explicam essa catástrofe. Por um lado, o governo brasileiro gasta apenas 5% do orçamento federal com educação. As crianças pobres frequentam escolas primárias que não têm fundos, materiais e professores qualificados, e os administradores geralmente reduzem o dia escolar para acomodar vários turnos de alunos. Consequentemente, muitos alunos escapam pelo sistema sem aprender o básico, e as taxas de evasão e repetência são astronomicamente altas. Outro fator é a má qualidade dos programas de treinamento de professores. Aqueles que estudam para ser professores obtêm muito pouca experiência prática de ensino - o treinamento é principalmente teórico. Só quando entram na sala de aula pela primeira vez, diz Maria, é que esses jovens educadores percebem que nunca aprenderam a ensinar. Em vez de tentar envolver as crianças nos livros, os professores fazem os alunos repetirem ou memorizarem os fatos sem explicar seu significado. Ironicamente, a sociedade então culpa o aluno por seu fracasso em obter a alfabetização. No entanto, Maria acredita que "o problema não é com o aluno, mas com o professor."

A Estratégia

Maria está introduzindo o rever na rede pública de ensino de São Paulo por meio de oficinas de reeducação de três dias para professores da pré-escola e do ensino fundamental da cidade. Em conjunto com a Secretaria de Estado da Cultura, Maria treinou uma equipe de cinco membros para ajudá-la a ministrar essas oficinas. O principal objetivo das oficinas de leitura é ajudar os professores a explorar ao máximo até o texto mais simples. Eles aprendem a ler de forma expressiva, extraem palavras-chave, falam sobre sequência e cronologia e ajudam os alunos a falar, escrever e desenhar sobre um livro depois de lê-lo. Eles também aprendem como corrigir as crianças sem inibi-las e como determinar se as crianças compreenderam o que leram. Por fim, os workshops mostram aos professores como criar materiais didáticos usando materiais de baixo custo e facilmente disponíveis, como jornais e revistas. A filosofia por trás dessas técnicas é simples. “Ajudamos os professores a encontrarem a criança em si mesmos”, diz Maria. Não é de surpreender que trazer crianças às oficinas diariamente para testar a metodologia ajuda a demonstrar sua eficácia aos participantes. “São as crianças que dão credibilidade ao projeto”, afirma. No último dia da oficina, os participantes devem preparar seus próprios textos de leitura e apresentá-los aos alunos no mês seguinte. Os líderes das oficinas acompanham os professores em suas salas de aula para observar as técnicas em ação. Os professores então retornam para uma sessão final de acompanhamento, na qual avaliam os problemas e experiências com Maria e os líderes das oficinas. Por fim, Maria deseja que todos os 4.000 professores da primeira à quarta série de São Paulo passem pelas oficinas de reeducação. Para isso, ela planeja passar um ano treinando um núcleo de “multiplicadores” para dar as oficinas que, por sua vez, vão formar mais multiplicadores. Alcançar todo o sistema de escolas públicas é uma meta ambiciosa, mas não irreal, considerando a reputação de Maria entre seus colegas e o forte apoio que ela conquistou do Departamento de Educação da cidade. Depois de mudar o sistema escolar de São Paulo, Maria gostaria de levar o programa para cidades de todo o Brasil.