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Lara Dee
BrasilAshoka Fellow desde 2005

Nas grandes cidades do Brasil, milhares de marginalizados sociais vivem em extrema pobreza nas favelas. Em um país onde os papéis tradicionais de gênero “machismo” ainda exercem uma influência poderosa, as mulheres jovens, especialmente, estão presas sem nenhuma forma de obter educação, manter um emprego ou melhorar sua situação. Pior ainda, o status das mulheres como cidadãs de segunda classe significa que muitas dessas mulheres sofrem de dúvidas sobre si mesmas. Lara Dee fez parceria com várias escolas de samba do Brasil e as transformou em escolas holísticas de beleza / salão de beleza, onde essas mulheres antes desesperadas podem obter uma educação prática que pode levar a um emprego gratificante.

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A Pessoa

Lara nasceu em Itabuna, na Bahia, e se mudou para São Paulo aos 12 anos. Tendo crescido em uma família pobre, ela se envolveu na mobilização de sua comunidade em torno de questões sociais desde muito jovem. Aos 13 anos, ela primeiro organizou as mulheres da comunidade para exigir que o governo e as empresas de serviços públicos fornecessem aos subúrbios pobres os mesmos serviços sociais que forneciam no rico centro da cidade. Por exemplo, a empresa de gás estava relutante em entregar recipientes de gás pesados para uso na cozinha às portas dos residentes suburbanos mais pobres até que Dee e seu grupo insistiram que eles mereciam o mesmo tratamento que os clientes mais ricos da empresa. Mais tarde, a vida de Dee deu uma guinada inesperada quando ela se tornou dançarina em um programa de televisão. Ela deixou sua vida como uma jovem pobre para se tornar uma celebridade instantânea, aparecendo em um dos programas de entrevistas mais assistidos do país. Apesar de sua nova fama, Dee nunca se esqueceu de sua vida nas favelas e até hoje ainda se esforça para melhorar a situação dos cidadãos mais pobres do Brasil. Com esse espírito, Dee se dedicou a uma série de trabalhos voluntários nas favelas do Rio de Janeiro. Em 1985, ela alugou um galpão em São Cristóvão e criou uma cooperativa de mulheres para produzir e vender roupas nas favelas. Eventualmente, ela começou a trabalhar na organização Viva Rio como coordenadora de projetos, mas, com o passar do tempo, sentiu a necessidade de desenvolver seu próprio projeto. Em 2002, criou a “Beleza e Cidadania”, apoiada por uma amiga que é dona da maior editora do ramo de cosméticos.

A Nova Idéia

Em uma cultura machista em que as mulheres muitas vezes ainda são consideradas inferiores, Lara Dee oferece às mulheres uma nova maneira de garantir sua própria sobrevivência. A organização de Dee “Beleza e Cidadania” (Beleza e Cidadania) ajuda mulheres pobres a se tornarem trabalhadoras profissionais e, ao mesmo tempo, se tornarem seres humanos mais confiantes e emocionalmente estáveis. As mulheres se juntam na esperança de aprender um ofício profissional, mas elas aprendem muito mais no programa de Dee. Conhecendo os obstáculos psicológicos à autossuficiência que as mulheres enfrentam em uma sociedade dominada pelos homens, Dee traz psicólogos e conselheiros, além de professores. Sua escola é mais do que apenas um campo de treinamento; é um centro completo e holístico, que se esforça para ajudar as mulheres em todos os aspectos de suas vidas. As aulas são ministradas em escolas de samba do Brasil, grandes espaços de ensaio normalmente usados apenas durante a temporada de carnaval e vagos durante o resto do ano. Geralmente localizados no centro das favelas, são locais perfeitos para escolas que atendem aos cidadãos mais carentes das cidades. Para impulsionar o programa, Dee solicita doações de grandes empresas de cosméticos, para que os alunos sempre tenham materiais e equipamentos de beleza adequados para praticar e aprender seu ofício. Dee originalmente começou sua escola com a ajuda de um velho amigo que agora é dono de uma grande editora no ramo de cosméticos, e Dee ainda tem muitos contatos dentro da indústria.

O problema

Embora o Brasil seja, em muitos aspectos, uma nação moderna e progressista, as idéias tradicionais sobre gênero e sexo são difíceis de morrer. Os homens ainda são vistos como o sexo superior, os únicos que poderiam se beneficiar de uma educação e seriam capazes de ter um emprego fora de casa. Essa atitude é especialmente predominante nas favelas do Brasil, onde ainda se espera que as mulheres trabalhem dentro de casa como esposas e mães. Mas para muitas mulheres solteiras - que não têm família ou homem para apoiá-las - essa visão de mundo tradicional as condena a uma vida de pobreza. A maioria das meninas admite ter relações sexuais desprotegidas com parceiros diferentes, o que as coloca em risco não apenas de doenças sexualmente transmissíveis, mas também de gravidez não planejada. As jovens mulheres solteiras que cuidam de seus bebês enfrentam uma batalha difícil; seus filhos exigem atenção total, tornando ainda mais difícil para eles frequentar a escola ou ter um emprego estável. Aos 30 anos, sem educação e sem perspectivas de emprego, muitas dessas mães solteiras recorrem às drogas e ao crime para sobreviver. Para agravar esse problema, seu baixo status na comunidade - ser pobre e mulher - dizima seu senso de autoestima. No Brasil, muitas mulheres pobres sofrem de depressão, baixa autoestima e sentimentos de inutilidade. No entanto, um estigma de longa data contra o aconselhamento emocional desencoraja as mulheres a procurar tratamento. Além disso, as mulheres pobres geralmente estão muito preocupadas com a sobrevivência no dia a dia, em ganhar dinheiro suficiente apenas para sobreviver, para se preocupar com seu bem-estar emocional. Se as mulheres tivessem um lugar que pudesse dar-lhes educação, ensinar-lhes um ofício e ajudá-las a desenvolver um senso de valor próprio, seria um grande passo para as mulheres neste país patriarcal.

A Estratégia

Segundo dados da “Passarela do Samba”, existem cerca de 2.100 escolas de samba cadastradas no Brasil. Embora muito grandes (o tamanho médio do campus de uma escola é de cerca de 50.000 pés quadrados), eles são usados apenas durante o Carnaval. Morando em São Paulo, Dee percebeu que as escolas com seus grandes auditórios ficaram vazias no restante do ano, apesar de estarem localizadas em bairros populosos e carentes, onde os moradores carecem desesperadamente de espaços abertos para a realização de atividades sociais. A maioria das escolas é dirigida por homens da “velha escola” de mentalidade tradicional, que tendem a rejeitar as ideias de empoderamento feminino como impraticáveis ou tolas. Mesmo assim, Dee convenceu muitos a abrirem suas escolas para sua “Beleza e Cidadania” no período de entressafra de samba; uma vez que seus edifícios estariam simplesmente vazios de outra forma, eles não têm nada a perder com esse arranjo. Além disso, à medida que esses homens, muitos dos quais são líderes comunitários respeitados e poderosos, assistem ao programa de Dee em ação, eles gradualmente passam a ter um novo respeito pelas habilidades das mulheres. O primeiro movimento de Dee depois de abrir uma escola é enviar convites para a comunidade, pedindo às pessoas que participem de uma reunião de apresentação do projeto. Nessa reunião, Dee apresenta seu programa, suas muitas atividades e seus objetivos gerais - um dos quais é identificar e empregar mulheres locais como “educadoras” na escola. Em seguida, é realizado o primeiro curso: cuidados com as mãos. Durante este curso, as mulheres que apresentam aptidões especiais são selecionadas como educadoras e encarregadas de lecionar no distrito. Empresas de cosméticos doam muitos dos produtos para as escolas de Lara. Psicólogos e psiquiatras voluntários não só ajudam a identificar os educadores, mas também monitoram a situação das mulheres locais, ficando de olho em casos graves de depressão e outros possíveis problemas. Os alunos, por sua vez, continuam fazendo cursos, como pedicure, cabeleireiro, cera brasileira e maquiagem, cada vez mais comprometidos com a educação e mais ansiosos para testar suas novas habilidades no emprego. Ao mesmo tempo, as alunas se encontram em uma comunidade de colegas e mentoras, às vezes pela primeira vez em suas vidas. Essa atmosfera de apoio é importante para ajudar a construir a autoconfiança das mulheres depois de uma vida inteira sempre sofrendo uma perda em favor dos homens. Sabendo que as mulheres precisam de ajuda prática para ganhar a vida, bem como dos benefícios mais intangíveis da auto-estima, Dee sempre tem o cuidado de se concentrar no treinamento para o trabalho e na construção de confiança. Afinal, poucas mulheres compareceriam se achassem que não aprenderiam a ganhar dinheiro na escola. Dee é sensível ao fato de que nem todas as mulheres em seu programa compartilham o mesmo objetivo final. “Beleza e Cidadania” não usa uma abordagem padronizada para a educação, onde todo aluno deve simplesmente se tornar um esteticista de fábrica. O programa de Dee oferece suporte e treinamento para mulheres que preferem trabalhar em casa ou até mesmo fundar seus próprios negócios. A agência de empregos “Beleza e Cidadania”, que se concentra em colocar os graduados da escola junto aos empregadores, já possui 1.340 graduados em seu banco de dados. A escola construiu uma boa reputação entre os salões de beleza da cidade, e esteticistas vêm à agência diariamente em busca de novos funcionários. Para ajudar ainda mais seus graduados a encontrar trabalho, Dee também formou uma parceria com o famoso consultor de negócios Roberto Capeli para ministrar um curso de etiqueta empresarial. Uma mulher que foi aprovada neste curso e se formou na “& lt; i & gt; Beleza e Cidadania & lt; / i & gt;” descobre que sua nova experiência abre portas, não apenas em salões de beleza, mas também em drogarias locais, onde os cosméticos vendem muito. A Aprofar (grande associação de drogarias) contratou 40 formandos entre 18 e 25 anos para trabalhar em sua rede de drogarias. Com isso, o projeto ganhou visibilidade em toda a cidade, a ponto de outras escolas de samba buscarem a Dee para propor parcerias. O Salão-Escola “Beleza e Cidadania” está instalado atualmente em sete escolas de samba e será inaugurado em mais seis até o final do ano. Dee espera que seus esforços para envolver líderes comunitários incentivem outras parcerias entre empresas ou organizações comunitárias interessadas em ajudar a comunidade local. Dee espalhou sua metodologia para uma organização do Rio de Janeiro, próxima à escola de samba Beija-Flor, na esperança de repetir seu sucesso em São Paulo. No momento, o projeto de Dee depende de suprimentos doados por empresas filantrópicas de cosméticos, mas ela reconhece que, à medida que o programa se expande, as doações podem não atender mais às necessidades de materiais de treinamento das escolas. Para resolver esse dilema, Dee planeja iniciar uma linha de produtos de beleza com o nome “Beleza e Cidadania” para ajudar a gerar renda para sua organização. Considerando que a “Beleza e Cidadania” já tem um nome significativo e é amplamente respeitada na cultura de salões de beleza da cidade, este empreendimento certamente terá sucesso.