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Nelsa Nespolo está criando um modelo de “cadeia justa” que coloca os trabalhadores da cadeia de suprimentos nas responsabilidades de propriedade e gestão - dando-lhes maior controle sobre seus meios de subsistência.
Filha de fazendeiros, Nelsa nasceu em Nova Pádua, cidade do interior do Rio Grande do Sul. Aos 13 anos, deixou o país para estudar na cidade, onde cursou a Juventude Operária Católica (JOC). O JOC promoveu discussões em grupo sobre os valores da vida, o que facilitou o desenvolvimento inicial de habilidades de liderança. Nesse período, Nelsa trabalhou como operadora de fábrica e foi responsável por organizar os trabalhadores na luta pela melhoria das condições de trabalho. Com atuação ativa no JOC, Nelsa foi convidada a assumir o cargo de coordenadora nacional em São Paulo. Nessa função, ela passou a coordenar o movimento em todo o Brasil. Esta experiência solidificou sua perspectiva de seu trabalho como tendo um propósito maior e muito mais do que um gerador de renda. Nesse período, ela se casou, deixou o emprego na fábrica e decidiu trabalhar por conta própria; consultoria de sua casa enquanto cria dois filhos. Sentindo necessidade de retornar ao trabalho coletivo, envolveu-se com o Orçamento Participativo de Porto Alegre. Atuando como conselheira e delegada, ela descobriu sua imensa capacidade de mobilizar e organizar a comunidade. Ela era responsável pela melhoria dos serviços básicos da comunidade na região onde morava. Também criou o projeto Incubadoras Populares, que auxilia o crescimento de empresas de economia solidária, e a Cooerativa de Costureuras Unidas Venveremos. Depois de criar outras cooperativas com foco em reciclagem, creche, saneamento, pavimentação de estradas e serviços médicos, Nelsa voltou sua atenção para um modelo com potencial econômico muito maior.
Nelsa criou um novo tipo de cadeia de suprimentos usando participação econômica justa para melhorar a vida dos trabalhadores de baixa renda no Brasil. Seu modelo conecta todas as partes da cadeia de produção de roupas orgânicas - do cultivo do algodão à venda final - em um coletivo que distribui os lucros entre os trabalhadores; também os donos da empresa. Ao contrário das iniciativas de "comércio justo" que exigem que os consumidores paguem um prêmio por um produto produzido de forma ética, o modelo de "cadeia justa" de Nelsa aumenta os salários dos trabalhadores, ao mesmo tempo que confere responsabilidade de gestão e propriedade aos próprios trabalhadores. Após apenas dois anos de operação, mais de 700 trabalhadores estão envolvidos na rede da cadeia de abastecimento da Justa Trama. A empresa mantém uma estrutura guarda-chuva com cada link pertencente e operado pelo trabalhador. À medida que a empresa desenvolve capacidade, recursos e gestão, os trabalhadores alcançam estabilidade econômica e participação igual em uma economia que tradicionalmente os rejeitou.
No Brasil, a riqueza está concentrada principalmente em algumas poucas figuras empresariais e políticas, enquanto a grande maioria da população é composta por trabalhadores de baixa renda que vivem em condições de quase pobreza. Cargos de alta remuneração recrutam apenas entre a parte instruída da população. Os empregos mal remunerados costumam ser a única opção para quem não tem educação, e o número desses empregos está diminuindo, enquanto a distribuição desigual da riqueza no Brasil está aumentando como resultado dessa disparidade. Nas fábricas têxteis brasileiras, a competição internacional está reduzindo os salários e aumentando o número de trabalhadores com salários abaixo do nível de subsistência. As fábricas fecham com frequência, para depois reabrir como “novas” empresas e contratar ex-funcionários com salários mais baixos e sem benefícios. A maioria das cooperativas brasileiras está localizada em áreas rurais, principalmente no Nordeste, onde a produção é predominantemente local e os esforços são isolados. Além disso, essas empresas carecem de estratégias de crescimento inovadoras para acessar novos mercados e se posicionar efetivamente como uma alternativa viável aos empregos de baixa remuneração nas fábricas.
Nelsa organizou uma cadeia de suprimentos justa por meio de uma estrutura de seis etapas de empresas de propriedade dos trabalhadores, com um grupo guarda-chuva supervisionando o processo. Seu objetivo: criar uma organização que dê aos trabalhadores a propriedade de seu futuro financeiro. Começou a trabalhar confeccionando bolsas para o Fórum Social Mundial de Porto Alegre. Seu trabalho incorporou 35 cooperativas que produziram mais de 60.000 sacas. Retendo recursos para cobrir emergências inesperadas, Nelsa conseguiu dividir o excedente em partes iguais para cada uma das cooperativas envolvidas, independentemente do tamanho e da estrutura. Este evento teve um impacto significativo para todos os envolvidos, em parte pelo sucesso que representou para um novo modelo económico que valida o comércio justo e a distribuição igualitária da riqueza. Durante o processo de produção do Fórum Social Mundial em 2005, Nelsa criou a Justa Trama, uma marca e rede de produção de roupas de algodão orgânico. O nome significa: “Entre nós, seremos justos, bem entrelaçados e claros.” Nelsa criou um modelo de produção. Ela identificou cooperativas em potencial para participar do programa piloto e avaliou a capacidade de produção. Ela exigia que cada empresa definisse suas obrigações para com a Justa Trama. Por exemplo, a produção com a cooperativa ADEC, envolve 270 agricultores em cinco cidades do Ceará, que produzem 1,5 tonelada de algodão orgânico. O fio e a tecelagem são realizados por duas cooperativas que empregam 390 trabalhadores no estado de São Paulo. O design e a produção são realizados em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul com 23 mulheres trabalhando como costureiras para finalizar a produção. Outros 100 cooperados produzem corantes decorativos e naturais da região amazônica. A cada nova cooperativa que aderir à rede são oferecidos processos de capacitação e tomada de decisão coletiva. Os funcionários se reúnem para decidir se querem participar. Se a produção orgânica faz sentido para eles, que papel os indivíduos desempenharão na gestão? Este processo estabelecido reflete os princípios de participação econômica da Justa Trama. A Justa Trama também cria e alavanca parcerias com outras organizações brasileiras para aumentar seu impacto. Trabalha com a Unisol Brasil para influenciar a política governamental; o Fórum Brasileiro de Economia Solidária, para se conectar com o restante do movimento de economia solidária; SENAES / Fundação Banco Brasil, para financiar os esforços iniciais de produção e capacitação; e ESPLAR, para aprimorar técnicas de produção de algodão orgânico. Discussões frequentes com o Ministério do Trabalho dão à organização acesso a quem elabora e estabelece políticas públicas. O aumento da produção de algodão orgânico será parte integrante do sucesso da Justa Trama. No curto prazo, a Nelsa vai simplificar o processo de formação de uma empresa coletiva e se comunicar diretamente com os agricultores sobre o aumento da demanda por algodão orgânico. Além disso, ela pretende fortalecer e consolidar a marca Justa Trama, junto com as seis cooperativas, estabelecendo uma estrutura consistente e valores fundacionais claros em torno da autossuficiência e da justa produção. Nelsa quer expandir seu trabalho com a Justa Trama para todo o Brasil. Para ter impacto nacional, ela está diversificando a marca e a linha de produtos Justa Trama com redes e calçados. O aumento da produção também aumentará a necessidade de matéria-prima, o número de designers empregados e o número de fábricas solidárias incorporadas. Ela também planeja abrir lojas de varejo Justa Trama para eliminar a dependência de varejistas existentes. Grupos externos, nacionais e internacionais, têm reconhecido a força do modelo da Justa Trama, entre eles a Fundação Banco Brasil e um grupo que representa mais de 1.000 cooperativas na Venezuela. Esses grupos estão adotando estratégias implementadas com sucesso no Brasil.