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Celso Athayde
BrasilAshoka Fellow desde 2006

Os moradores das favelas brasileiras, ou favelas, vivem em um ambiente atormentado pela pobreza, violência e desemprego. Celso Athayde está permitindo que os jovens das favelas se envolvam de maneira central na mudança de suas comunidades para melhor.

#Rio de Janeiro#Brasil#Favela#Comércio ilegal de drogas#Pobreza#Rocinha#Música hip hop#Favela

A Pessoa

Celso cresceu nas favelas e foi exposto à violência e à miséria desde muito jovem. A partir dos seis anos, Celso e seu irmão César moraram com a mãe, dona Marina, na rua. A vida deles foi de dificuldades e lutas constantes. Mesmo assim, Celso havia morado em uma casa e tinha o sonho de um dia fugir das ruas. Por influência de um líder comunitário local, Celso se interessou por política e pelo mundo exterior e aos 14 anos começou a aprender a ler e escrever. Ele também trabalhava como vendedor ambulante e acabou juntando dinheiro suficiente para ajudar sua mãe a comprar uma casa em Madureira. Ele começou a organizar os outros vendedores ambulantes da área e trabalhou com o governo e forças de segurança para manter as ruas seguras e livres de crimes. À medida que mobilizava a comunidade, Celso foi exposto à música e à cultura hip-hop e consequentemente chegou a um nova compreensão de sua identidade como homem negro. Ele começou a considerar por que as pessoas vivem nas ruas, a pensar sobre as raízes da pobreza e a questionar por que a maioria dos sem-teto é negra. A exposição de Celso à música hip-hop mudou drasticamente a maneira como ele via a sociedade e a vida nas favelas, e ele buscou trazer outras pessoas para a consciência política e social pelos mesmos meios. Em 1998, Celso criou a Central Única de Favelas em Madureira com o objetivo de inspirar consciência política entre os moradores da favela. Em 1999, a organização lançou o primeiro álbum de MV Bill, que mais tarde se tornou o rapper mais popular do Brasil. Como não havia loja de hip-hop no Rio de Janeiro, Celso e sua equipe não tinham como distribuir e vender seus discos. Para resolver esse problema, eles abriram uma loja de música hip-hop e montaram o marketing e distribuição na favela. Em 2004, Celso viajou pelo Brasil visitando favelas e conhecendo o dia a dia dos jovens das favelas. Suas viagens resultaram em um livro e filme que expôs o tráfico de drogas nas favelas e o envolvimento de crianças neste mercado ilícito. Esses se tornaram os primeiros produtos de mídia da CUFA.

A Nova Idéia

Celso acredita que a falta de empatia e compreensão de pessoas de fora continua sendo um grande obstáculo para a melhoria de vida nas favelas a longo prazo. Ele criou um programa de produção audiovisual dirigido por jovens para empregar jovens e mostrar-lhes uma renda fora do crescente mercado de drogas ilegais. Em seu Centro Único de Favela (CUFA), jovens produzem filmes e música para comunicar a realidade da vida na favela para o resto do Brasil. Livros e filmes criados pela comunidade são disseminados nacionalmente como parte de uma campanha para ajudar todos os brasileiros a entender como é a vida nas favelas. Por meio dessa arte audiovisual, os jovens ganham senso de responsabilidade social e aprendem sobre a formulação e implementação de políticas públicas. Os programas da CUFA oferecem aos jovens a oportunidade de contextualizar sua experiência na cultura mais ampla, de discutir a vida na favela e de debater estratégias para superar os obstáculos que enfrentam. Celso criou mecanismos de comunicação com o governo para integrar essas estratégias às políticas públicas.

O problema

Aproximadamente um terço da população brasileira vive em favelas, com 1,3 milhão de moradores de favela apenas no Rio de Janeiro. O crescimento da população favelada se deve em parte à migração das áreas rurais para as urbanas de pessoas em busca de uma vida melhor. Infelizmente, a vida nas favelas é, no geral, muito pior do que a vida no campo. Os residentes têm menos benefícios para a saúde, menor expectativa de vida, educação precária e menos oportunidades de emprego. Os jovens são as principais vítimas da violência nas favelas. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística informou que, entre 1991 e 2000, o número de homicídios entre jovens aumentou 76%. Em 2000, quase 40% dos homicídios no Brasil eram de jovens com idades entre 15 e 24 anos. Além disso, o desemprego e o crescente comércio de drogas - uma alternativa ilegal, mas frequentemente lucrativa para a economia de mercado legítima - são dois problemas nas favelas. As intervenções do governo e de organizações sociais são amplamente ineficazes porque deixam os moradores da favela fora do processo de planejamento e implementação. Como resultado, os projetos são freqüentemente insustentáveis e mal adequados às necessidades locais. Para agravar esse problema, está a falta de compreensão das favelas entre a população brasileira. As barreiras linguísticas entre os atores externos e os moradores da favela impedem a comunicação e a compreensão, principalmente devido à complexidade dos problemas.

A Estratégia

Celso acredita que mudanças profundas nas favelas só podem acontecer se os moradores estiverem centralmente envolvidos no planejamento e implementação de soluções. Celso está transformando a vida nas favelas por meio de três estratégias importantes: a criação de atividades que eduquem os habitantes - principalmente os jovens - sobre seu ambiente social e os capacite a serem agentes de mudança em suas comunidades; o desenvolvimento de uma economia de mercado que gere oportunidades de emprego para uma parcela significativa da população local; e comunicação com a sociedade brasileira sobre os problemas das favelas e possíveis soluções. Celso fundou a CUFA em 1998 com o objetivo de criar um movimento comunitário organizado e desenvolver o ímpeto e a liderança necessários para transformar as favelas. O objetivo da CUFA é envolver e capacitar os jovens que têm energia e capacidade para inspirar mudanças. A CUFA usa o hip-hop, um dos passatempos mais populares entre os jovens da favela, como uma ferramenta para fomentar o diálogo que ajuda os jovens a formular opiniões sobre problemas sociais e propor soluções. CUFA concentra-se na composição de música e vídeo e na produção de álbuns e filmes. Essas formas de mídia dão voz à experiência dos jovens e os capacita a enfrentar questões sociais difíceis. Através da cultura do hip-hop, os jovens envolvidos com a CUFA assumem um novo papel dentro da comunidade, propondo soluções para revitalização e buscando parcerias fora das favelas que irão, idealmente, mudar a visão da sociedade em geral sobre as favelas e quebrar estereótipos sobre seus habitantes .Estes programas são tornados mais eficazes pelos componentes de produção e distribuição da CUFA. Celso acredita que não basta concentrar-se no empoderamento individual para transformar a favela, pois é preciso desenvolver um mercado formal para neutralizar a poderosa influência do tráfico de drogas. Como tal, a CUFA forma jovens na comercialização de produtos. Por exemplo, na aula de audiovisual, esses jovens criaram o popular filme Falcon: os filhos do tráfico. O filme expõe a gravidade dos problemas enfrentados pelas favelas, principalmente quando crianças e jovens estão envolvidos no mundo do tráfico de drogas. Este filme elevou a discussão do problema a um nível nacional. O elso envolve uma grande rede de atores externos, incluindo artistas renomados do hip-hop, que falam sobre a importância de levar a cultura da favela ao público. Esses modelos inspiram os participantes a continuar o discurso sobre a vida na favela em um diálogo com a sociedade em geral. Além disso, os cursos da CUFA oferecem aos alunos ferramentas para uma cidadania ativa, ensinando-lhes políticas sociais e capacitando-os a agir para melhorar a vida na favela. Esses programas para jovens fazem de seus participantes os embaixadores culturais das favelas, ajudando a mudar os equívocos e preconceitos da sociedade sobre as pessoas que vivem nelas. Celso organiza um festival cultural anual de hip-hop chamado HUTUZ. Este evento oferece à CUFA maior visibilidade, dando-lhe a força necessária para se comunicar com os brasileiros fora das favelas e propor soluções para os problemas dentro das favelas. Celso também criou a primeira liga de basquete de rua do país, incorporando outra atividade popular nas favelas. Em 2006, essa liga foi destaque no calendário do Ministério dos Esportes do Rio de Janeiro e entrará no campeonato pan-americano em 2007. Usando a mesma abordagem que empregou com o hip-hop, Celso criou a liga para não promover esporte, mas para capacitar os jovens. A Celso também está envolvida no alinhamento das políticas públicas com as necessidades locais. A CUFA ocupa duas cadeiras na Secretaria Nacional da Juventude, auxiliando na concepção e implementação de programas governamentais para jovens com foco em favelas. Após a realização e sucesso do filme de Falcão, Celso apresentou ao presidente brasileiro e aos ministros federais 11 propostas elaboradas por moradores de favelas que incluíam políticas de criação de empregos, geração de renda e recuperação da cidadania. O governo decidiu implementar esses projetos com a ajuda de Celso e criou uma equipe incluindo três outras organizações sociais focadas em favelas para ajudar a implementá-los. Celso também arrecadou um milhão de assinaturas para instituir o dia 4 de novembro como Dia da Favela no estado do Rio de Janeiro. No Rio de Janeiro, a CUFA atende 2.000 pessoas na Cidade de Deus, 2.600 pessoas em Jacarezinho e 400 em Acari. Além disso, capítulos da CUFA estão presentes em 20 estados brasileiros. Esses capítulos da CUFA compartilham princípios e valores comuns, priorizando cursos sobre cidadania, etnia, empreendedorismo e geração de renda. Como a ideia central é que as pessoas ganhem autonomia, cada capítulo tem flexibilidade nos projetos e atividades que desenvolve. A meta atual de Celso é sistematizar seu programa e garantir que as melhores práticas sejam seguidas. Para tanto, recebeu consultoria técnica do Instituto de Capacitação, que o ajudou a arrecadar fundos para formar uma equipe administrativa de 24 pessoas. O trabalho de Celso inspirou uma profunda transformação nas favelas ao empoderar os jovens. Esses indivíduos se tornam mais confiantes na produção e implementação de projetos que impactam positivamente suas comunidades. Além disso, a música, a literatura e o vídeo que produzem permitem-lhes comunicar a realidade da sua vida. Isso, por sua vez, ajuda a mudar a percepção da sociedade sobre os moradores da favela. A metodologia de Celso transforma as políticas públicas voltadas para essas regiões e cria uma economia de mercado que alivia as dificuldades financeiras das favelas.