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Ana Moser
BrasilAshoka Fellow desde 2007

Ana Beatriz Moser leva educação física para as escolas brasileiras e cria oportunidades para crianças de todas as áreas socioeconômicas participarem de esportes.

#Educação#Professor#Esportes profissionais#Esportes amadores#Vôlei#Escola#Ensino superior#Pensamento crítico

A Pessoa

Ana Beatriz Moser nasceu em família de imigrantes italianos e alemães e cresceu no interior de Santa Catarina. Incentivada pela família, Ana começou a praticar esportes desde muito jovem. Ela sempre foi atraída por esportes de equipe. Ana jogou vôlei em um clube até ser convidada a ingressar primeiro na seleção de sua cidade, depois na seleção estadual e, por fim, na seleção brasileira. Sua equipe venceu o Campeonato Mundial Júnior pela primeira vez quando ela tinha 17 anos e voltou a vencer nos dois anos seguintes. Como atleta profissional, Ana jogou pelo Brasil em Olimpíadas e Campeonatos Mundiais, e conquistou várias medalhas. Durante os 15 anos que passou jogando vôlei pela Seleção Brasileira, Ana se destacou por exercer uma função de liderança no time e por suas visões sobre o significado do esporte em sua vida e para a sociedade como um todo. Os treinamentos e a agenda de viagens impossibilitaram a faculdade, mas ela conseguiu ler muito e fez questão de conhecer os países que visitou. Além de aumentar sua compreensão do mundo, isso deu a ela uma atitude flexível e de mente aberta que a fez se destacar na quadra de vôlei. A equipe de Ana a escolheu para ser sua porta-voz, função que a ajudou a entender o marketing esportivo no Brasil, onde o foco é o esporte de alto rendimento. Aos 26 anos, a artrose crônica dos joelhos de Ana tornava difícil para ela treinar com sua equipe. Muitas pessoas pensaram que ela precisaria interromper sua carreira. Ana tentou várias terapias alternativas e, finalmente, desenvolveu seu próprio programa de reabilitação usando Reeducação Postural Global e Pilates, ambos desconhecidos no Brasil naquela época. Ana continuou a jogar na equipe por mais cinco anos, para surpresa de seus treinadores, que logo adotaram seus métodos de treinamento. Ana tornou-se instrutora de Pilates e, anos depois, quando deixou de jogar voleibol profissionalmente, passou a usar seus conhecimentos como treinadora da Seleção Brasileira. Durante esse tempo, ela começou a criticar a ênfase do Brasil nos esportes de alto rendimento, ao invés dos esportes para todos. Em 1998 ela começou a levar educação física para as escolas e fundou o IEE um ano depois.

A Nova Idéia

Jogadora de voleibol profissional aposentada, Ana acredita que o esporte é uma ferramenta essencial para ensinar às crianças habilidades de pensamento crítico, trabalho em equipe, participação cívica e hábitos de vida saudáveis. Por meio de seu Instituto de Esportes e Educação (IEE), Ana disponibiliza educação física de qualidade para crianças, principalmente em comunidades carentes de baixa renda, seja formalmente, em parceria com escolas, ou informalmente, por meio de parcerias com outras organizações comunitárias. Ana capacita os professores a usar com eficácia a educação física e os esportes como ferramentas para ajudar as crianças a aprender uma gama mais ampla de habilidades e valores. Ela treina educadores comunitários em educação física e atualmente está pressionando o governo para certificar os instrutores que passaram por seu treinamento. Ana também visa estudantes universitários em programas de educação física e ensina a esses futuros educadores a importância do esporte na educação infantil. Ana apóia todos os seus esforços com crianças, professores e comunidades, fazendo lobby por mudanças nas políticas públicas brasileiras de apoio ao esporte na educação. Para tornar suas campanhas mais eficazes, ela aproveita sua imagem de conhecida atleta nacional e mobiliza o apoio de outros atletas profissionais.

O problema

O sistema escolar brasileiro não promove esportes para educação ou recreação. No Brasil, o esporte é considerado competência de atletas profissionais de elite e de alto desempenho. Essa tendência pode ser atribuída ao governo militar do país, que promoveu atletas estelares como símbolos de uma nação poderosa. As escolas não eram obrigadas a incluir a educação física em seu currículo acadêmico até a década de 1990, e a educação física nas escolas continua fraca. Geralmente é considerado uma forma de ocupar o tempo dos alunos ou uma atividade valiosa para um pequeno número de crianças altamente talentosas. Nos últimos anos, alguns programas públicos promoveram e financiaram atividades esportivas dentro e fora das escolas, mas esses programas foram em grande parte planejados para dar às crianças uma alternativa às ruas. A falta de professores qualificados tem impedido ainda mais a educação física no Brasil. Os graduados universitários na área são treinados para trabalhar em academias esportivas privadas ou como treinadores, ao invés de educadores. Os instrutores de educação física não devem estudar ou integrar seus cursos aos programas acadêmicos de suas escolas. Por causa da falta de treinamento, a maioria dos professores de educação física não explora o potencial dos esportes para fins educacionais mais amplos, como desenvolver a cidadania, o pensamento crítico ou estilos de vida saudáveis nas crianças. Esse problema foi intensificado por um sistema regulatório nacional de esportes que promove o elitismo. Altamente influenciado por parcerias corporativas, o Comitê Olímpico Brasileiro e o Conselho de Educação Física dificultam que educadores comunitários e professores regulares sejam reconhecidos como professores oficiais de educação física no Brasil. Como esses são os professores que atingem a maioria da população, as regulamentações em vigor excluem comunidades de baixa renda de terem instrutores de educação física certificados.

A Estratégia

Ana trabalha para tornar esportes e educação física acessíveis a crianças de comunidades de baixa renda; capacitar professores para usar os esportes como uma via para uma educação mais ampla; e fazer lobby por mudanças nas políticas públicas brasileiras para valorizar o esporte na educação. Seu Instituto de Esporte e Educação criou Centros Esportivos Sócio-Educacionais em diversas comunidades, principalmente em áreas de baixa renda, por meio de parcerias com associações locais, escolas públicas e outras instituições públicas e privadas. Esses centros são adaptados para atender às necessidades de cada comunidade e reúnem muitas partes interessadas diferentes: profissionais de educação física, organizações comunitárias, prefeituras, empresas privadas, o setor público e o “Sistema S” (organizações públicas e não governamentais financiadas (impostos sobre a folha de pagamento, que se concentram na formação profissional e na capacitação). Os centros oferecem atividades esportivas, sociais e educacionais que ensinam a crianças e adolescentes o pensamento crítico e a cidadania proativa. Ana também promove intercâmbios entre jovens de diferentes centros, usando o esporte como um veículo para um intercâmbio e aprendizado mais amplo na comunidade. Por meio dos centros, o IEE constrói currículo de educação física nas escolas parceiras e treina professores de educação física, sempre com ênfase no contexto da comunidade local. O IEE considera os instrutores de educação física como agentes de mudança tanto nas escolas quanto nas comunidades, pois além de promoverem a educação física nas escolas, muitas vezes conectam seu trabalho nas escolas aos bairros onde vivem seus alunos. O IEE desenvolveu um curso de formação de professores de educação física comunitária que envolve 200 horas de seminários. Até o momento, já formou 120 professores e criou 15 centros esportivos que, juntos, atingem cerca de 2.800 crianças por mês. Os professores de educação física dos centros enquadram-se em três categorias: coordenadores pedagógicos, professores profissionais e professores em formação. Os coordenadores pedagógicos são responsáveis pela supervisão dos núcleos e pela disseminação dos métodos educacionais. Eles organizam e conduzem seminários para treinar professores novos e existentes. Professores profissionais coordenam as atividades específicas de seus centros e auxiliam no treinamento de instrutores mais jovens. Os professores em formação recebem formação e complementam o seu desenvolvimento profissional com o envolvimento nas atividades do seu centro. Além disso, todos os professores de educação física estão envolvidos em uma discussão contínua da metodologia IIE. Um dos resultados desse esforço é o Manual de Jogos Educativos, um manual prático para professores e educadores comunitários. O livro está em sua segunda edição, com 3.000 exemplares distribuídos. Como forma de divulgar seu trabalho pelo Brasil, Ana desenvolve, em parceria com o UNICEF e o Ministério do Esporte, um programa denominado “Caravana do Esporte”, que incentiva o desenvolvimento de novos polos. A Caravana do Esporte viaja para cidades carentes, onde Ana realiza oficinas esportivas e seminários pedagógicos para educadores, faz parcerias com lideranças locais e doa equipamentos esportivos. Em seu primeiro ano, a caravana percorreu dez cidades de diferentes regiões do Brasil, trabalhando com 8.000 crianças e 800 educadores. No ano seguinte, Ana realizou seminários de acompanhamento nessas cidades e levou seu programa a outras oito. Ana espera criar uma rede entre essas cidades e vilas para que possam trabalhar juntas. Ao mesmo tempo, Ana levou sua metodologia para programas de educação física universitária. Ela acredita que é essencial transmitir aos futuros educadores uma compreensão do que o esporte pode ensinar. Seu curso de pós-graduação agora é ministrado em quatro cidades. Para empoderar ainda mais os educadores comunitários, Ana está fazendo lobby para que aqueles que passam por seu treinamento sejam oficialmente reconhecidos por seus conselhos regionais de educação física. Normalmente, esses órgãos governamentais reconhecem apenas graduados universitários como educadores esportivos profissionais. No entanto, muitos dos jovens instrutores com os quais Ana trabalha não tiveram acesso ao ensino superior. Ela acredita que sua experiência prática deve isentá-los dos requisitos de graduação que, de outra forma, precisariam cumprir. Para tornar isso possível, Ana está trabalhando com o Ministério da Educação para criar políticas que reconhecem a educação física e o ensino comunitário como uma nova profissão. Ana também está trabalhando para tornar os centros esportivos instituições permanentes em cidades de todo o Brasil. O treinamento IEE qualifica professores de educação física para criar seus próprios centros esportivos nas escolas e fora delas. Ana ajuda os professores a criar esses centros firmando acordos entre governos municipais, escolas e professores. Por exemplo, na cidade de Atibaia, as lideranças da cidade adotaram um programa de educação esportiva, que resultou na abertura de dois centros. A estratégia de Ana de criar fortes conexões locais ajuda a garantir que os projetos se tornem instituições locais.