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Ronaldo Monteiro
BrasilAshoka Fellow desde 2008

A partir de sua experiência como presidiário do sistema penitenciário, Ronaldo Monteiro está transformando a forma como a sociedade vê os condenados. Ao construir redes de apoio e promover o empreendedorismo, ele está provando que ex-presidiários podem ser membros produtivos da sociedade e podem quebrar o ciclo de reincidência.

#Emprego#Capacitação#Direitos Humanos e Igualdade#Empresa e empresa social#Desenvolvimento e prosperidade#Reincidência#O prisioneiro#Penologia#Prisões#Reforma prisional#Encarceramento#Sexualidade de prisão#Prisão

A Pessoa

Ronaldo nasceu em uma família de classe média baixa em Niterói e teve a oportunidade de estudar em escolas particulares e na Escola Técnica Rodrigo Lages. Como um dos poucos estudantes negros, Ronaldo teve dificuldade de se socializar até se destacar nos esportes - isso abriu um caminho para o reconhecimento social. Embora tivesse interesse em escrever e música, a forte influência de seu pai o levou a entrar no Exército, onde treinou como pára-quedista. Em 1979 ingressou na Faculdade de Educação Física da UERJ, mas ficou impossibilitado de fazer seus estudos e trabalhar no Exército. Ronaldo se casou em 1981 e com três filhos, passou a frequentar o crescente número de extorsões e boates - influenciado por amigos e pelo pai. Ainda oficial do Exército, envolveu-se com o crime organizado, sendo responsável pelo planejamento e execução de diversos sequestros no Rio de Janeiro. Por má conduta, após dez anos nas Forças Armadas, Ronaldo foi expulso. Em 1991, foi condenado a 28 anos de prisão por sequestro com intenção de extorsão. Rejeitado por familiares e amigos que o consideravam um profissional exemplar, Ronaldo cumpriu treze anos de sua pena e passou por seis unidades prisionais. O sofrimento vivido pela ausência da família o levou a refletir. A sua dedicação à literatura e à religião ajudou-o a ultrapassar a solidão e a culpa e permitiu-lhe iniciar um processo de transformação como pessoa. Durante os “dias de visita” na prisão, Ronaldo percebeu as dificuldades dos reclusos em relação às suas famílias, especialmente com os seus. crianças - abandonadas em depósitos enquanto os prisioneiros faziam visitas conjugais com suas esposas. Por isso, Ronaldo passou a reunir as crianças e organizar atividades educacionais, culturais e de lazer, criando o Projeto Criança. Conquistou o apoio e o respeito dos presos, da assistência social do presídio, e até do apoio de um sequestrador, membro da Associação dos Empresários do Evangelho Completo (ADHONEP). Com seus laços religiosos, Ronaldo assumiu o papel de líder ecumênico, e reivindicou a liberdade para todos os cultos religiosos. Ganhou credibilidade e a participação de detidos de várias religiões, em todas as iniciativas que liderou. O sucesso alcançado pela iniciativa foi notado pelo governo, que decidiu replicar o projeto em outras unidades prisionais; transformá-lo em política pública, sem, no entanto, reconhecer Ronaldo como o líder do programa. Sua busca contínua por soluções para os presidiários o levou a promover a integração familiar e a geração de renda, organizadas por meio de oficinas durante e fora do horário de visitas. Ronaldo criou a Oficina de Papel, projeto em que presidiários são pagos para produzir papel e produtos reciclados - e replicado em seis estados. Por essas iniciativas, Ronaldo foi eleito Presidente do Instituto Mandela, a primeira instituição de assistência a detidos no sistema prisional, criada em 1989 na Penitenciária de Lemos Brito. Em 1999, Ronaldo tornou-se aluno e depois educador do Comitê para a Democratização do Tecnologia da Informação - promovendo a inclusão digital nas prisões. Este contato confirmou para ele a necessidade de trabalhar também com a integração de ex-reclusos na sociedade e identificar o emprego como o principal desafio para fazê-lo. Em 2001, ainda na prisão, criou o projeto One Chance, para preparar presidiários para o mercado de trabalho e promover a ressocialização por meio do empreendedorismo. Em 2003, este projeto tornou-se CISC – Uma Chance, um CO com a missão de promover soluções inovadoras em desenvolvimento econômico e inclusão social de ex-reclusos do sistema penitenciário. Em 2006, o IEE foi lançado.

A Nova Idéia

A organização de cidadãos de Ronaldo (CO), a Incubadora de Empresas de Ex-Prisioneiros (IEE), reintegra ex-prisioneiros na sociedade como cidadãos produtivos. Sem os serviços para preparar os presos para sair da prisão e os estigmas da sociedade contra os condenados tornam difícil para os ex-presidiários recomeçar a vida. Ronaldo identifica e desenvolve o empreendedorismo entre os presos e oferece apoio emocional a eles antes e depois de saírem da prisão. Essa abordagem de transição permite que os presidiários planejem sua reentrada na sociedade e lhes dá autonomia e confiança para reconstruir suas vidas. Por meio do Centro de Integração Social e Cultural (CISC), Ronaldo mobiliza atores dos setores público e privado para ajudar a fomentar a capacidade empreendedora de presidiários enquanto estão encarcerados. Como costuma ser extremamente difícil para eles se reintegrarem à sociedade e encontrarem emprego depois de saírem da prisão, o CISC cria fortes redes sociais e estimula conjuntos de habilidades enquanto os prisioneiros cumprem pena. Quando são liberados, eles têm um relacionamento com a CISC e podem encontrar rapidamente oportunidades de trabalho estimulantes. Para ex-infratores que não abrem negócios, o CISC oferece apoio social e oferece oportunidades de emprego em empresas de outros ex-infratores. Ronaldo está expandindo essa rede de suporte para todo o Brasil.

O problema

O intenso crescimento da violência e da criminalidade na sociedade brasileira a colocou em quarto lugar no mundo com o número de homicídios por pessoa. A pressão social por uma resposta do Estado resultou em um aumento considerável na população carcerária - a maioria dos presos sendo pobres, negros (cerca de 85%) e jovens. Entre 2003 e 2006, essa população aumentou de 308.000 para 406.000 sem aumento correspondente na capacidade das prisões. Como resultado, o país tem um sistema superlotado com mais de 60% dos estabelecimentos prisionais em condições precárias. Com foco exclusivamente no encarceramento, a preocupação com os presos e sua reabilitação e reinserção na sociedade foi abandonada. Sem as condições mínimas de dignidade humana, as prisões constituem um ambiente insalubre, com alimentação pobre, proliferação de doenças e ausência do necessário serviços psicossociais. Além disso, o domínio das organizações criminosas dentro das prisões cria uma lógica perversa que afasta os parentes dos presos e reforça as características que levaram ao encarceramento. Nessa situação, surgem padrões de comportamento incompatíveis com a reintegração, que tiram a capacidade do indivíduo de vislumbrar alternativas dignas fora da prisão. Portanto, ao invés de criar canais de ressocialização, o sistema penitenciário perpetua um eventual retorno à vida criminosa. Embora organizações internacionais tenham denunciado essas violações dos direitos humanos, a ação do Estado tem sido fragmentada e ineficiente. Concentrando-se na repressão ao crime, os esparsos programas de reabilitação de presidiários têm sido incapazes de alcançar resultados concretos. A maior parte desses programas consiste em cursos de capacitação e oficinas de profissionalização para que os presidiários tenham acesso ao mercado de trabalho. Outros, construídos em parceria com o setor privado, visam produzir bens dentro do presídio, utilizando a infraestrutura pública e mão de obra barata. Esses programas sempre falham devido à falta de estrutura e de canais necessários para uma efetiva assimilação de ex-presidiários mercado. Nem o Estado, nem as empresas produtoras de bens nas prisões, incorporam essas pessoas no momento da sua saída. Além disso, em uma economia onde as oportunidades são escassas, as pessoas com antecedentes criminais, sem educação formal e negras terão poucas chances de encontrar emprego. Assim, sem alternativas para uma vida fora da prisão, o retorno ao crime torna-se o princípio, e muitas vezes, a única alternativa nos meses após a libertação. Embora não haja dados oficiais, estima-se que a taxa nacional de reincidência afeta 70% dos ex-infratores. Embora o retorno ao mercado de trabalho tenha sido apontado como elemento fundamental para garantir a reconstrução de uma vida digna para o ex-presidiário, apenas 2% das 500 maiores empresas do Brasil oferecem oportunidades de emprego para ex-presidiários (Instituto Ethos). Esta discriminação explícita demonstra a necessidade de iniciativas concretas. Outra alternativa para o emprego é o desenvolvimento de atividades empresariais; embora não exista nenhuma ordem pública ou COs que promovam a criação de empresas com base nas condições especiais do ex-infrator. Para desenvolver um empreendimento, o ex-presidiário enfrenta diversos fatores, incluindo falta de conhecimento, falta de inclinação para o empreendedorismo, falta de apoio de familiares e falta de recursos e acesso a linhas de crédito. Portanto, a chance de sucesso com uma micro ou pequena empresa é baixa. De acordo com o SEBRAE, entre 30 e 60% das empresas criadas falham no primeiro ano. O crescimento das incubadoras de empresas teve resultados positivos neste campo - algumas conseguiram aumentar a taxa de sobrevivência das empresas em até 80%.

A Estratégia

Para quebrar um ciclo de encarceramento em que os presos são libertados e represados, Ronaldo criou o IEE para o empreendedorismo empresarial entre ex-presidiários. O CISC atende às necessidades sociais do IEE e constrói autoestima e redes sociais. O programa Incubadora tem duas fases para ex-infratores: Primeiro, eles passam pela pré-incubação para lidar com o treinamento técnico e teórico para a gestão. Posteriormente, na segunda fase, conhecida como incubação, eles aprofundam sua compreensão conceitual da empresa para o sucesso. O fator mais importante para o sucesso desse modelo é o tempo que leva para iniciar o negócio. Como a vulnerabilidade de ex-presidiários pode ser muito alta, Ronaldo emprega duas estratégias: Pagar uma bolsa e benefícios a cada pessoa na Incubadora e acelerar o processo de pré-incubação que permite que os ex-presidiários rapidamente gerem uma renda e se sustentem - para evitar a repetição da ofensa. Para aumentar a colaboração entre empresas e negócios administrados por prisioneiros, Ronaldo está constantemente construindo a rede IEE. Compreendendo a importância de uma rede social para os presidiários, Ronaldo envolve a família como forma de fortalecer os laços familiares e estimular a construção de uma vida cumpridora da lei fora da prisão. Logo após sua libertação da prisão, Ronaldo criou espaços saudáveis e atividades lúdicas para as famílias dos presos durante os dias de visita e o CISC continua implementando essa estratégia. Foi nessa obra que Ronaldo percebeu a necessidade de estabelecer projetos dentro das prisões para superar a passividade e a dependência dos presos; levá-los a construir sua vida. O estímulo às suas habilidades empreendedoras alcançou essa autonomia, beneficiando não apenas o prisioneiro, mas a prisão e, eventualmente, o setor privado. Por meio da colaboração com o governo e outros COs, a CISC criou centros de produção em prisões onde cada prisioneiro fabrica um produto em vez de produzir bens feito por várias pessoas em uma linha de montagem. Isso permite a propriedade do trabalho, da criatividade e da produção. Para garantir uma compensação pelo trabalho, Ronaldo negocia os canais de distribuição com empresas privadas e governo. Para ex-infratores que não abrem um negócio, o IEE encontra empregos em empresas administradas por ex-presidiários. Desta forma, é desenvolvida uma rede de apoio com ex-presidiários ajudando outros ex-presidiários. Ronaldo também formaliza esse apoio por meio de uma Rede de Apoio a Ex-Infratores, iniciativa que reúne dez COs que disponibilizam diversos serviços. O IEE está se opondo a estigmas sociais provando que ex-delinquentes podem ser forças econômicas e sociais positivas na comunidade. Ronaldo está negociando um programa de microfinanças com a Caixa Econômica Federal que oferecerá microcrédito às empresas do IEE. O IEE opera atualmente em seis estados, oferecendo suporte técnico e teórico para o início de empreendimentos comerciais sustentáveis. Em 2008, Ronaldo expandiu o IEE para mais três estados, com o objetivo de tornar o IEE um programa nacional. Ronaldo também está negociando com investidores privados e o governo sobre a adoção do modelo do IEE como política nacional para reforma prisional e empoderamento de prisioneiros.