Kelson Vieira
BrasilAshoka Fellow desde 1991

O arquiteto Kelson Senra está mostrando como os bairros mais antigos do centro da cidade podem se organizar por meio de esforços liderados pela comunidade para resistir aos padrões característicos de declínio. Ele está criando cooperativas mistas que podem fornecer novas moradias e atividades comerciais e de serviço social e construir um fundo de capital auto-renovável.

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A Pessoa

Criado por uma família de poucos recursos no interior do Brasil, Kelson lembra de sua casa como um centro de atividades comunitárias, com as portas sempre abertas para vizinhos e amigos. Ele também lembra que sua mãe, uma professora de escola primária, era uma organizadora da comunidade responsável por muitas melhorias na vizinhança nos serviços sociais, particularmente na educação. Quando Kelson se mudou para a capital para cursar uma universidade, ele continuou a se envolver com atividades sociais e comunitárias. trabalho orientado como voluntário nas favelas cariocas. Essas ações acabaram levando-o a se envolver profundamente com o Catumbi como morador e líder comunitário. Sua capacidade de liderança também foi reconhecida profissionalmente, quando Kelson assumiu a presidência do Sindicato dos Arquitetos, logo após a formatura.

A Nova Idéia

Há cinco anos, Kelson começou a trabalhar com a associação de moradores do Catumbi como parte de um projeto de pesquisa da faculdade. Suas ideias, aliadas ao entusiasmo dos moradores, resultaram em melhorias significativas nas condições de vida das residências e da comunidade. Catumbi havia sido declarada área de conservação, embora esse título a protegesse de destruição deliberada; não havia nenhuma disposição na lei para ajudar a reconstruir o bairro degradado ou evitar mais degradação. Como relata Kelson: "Os residentes queriam mudar sua vizinhança, mas não sabiam como; ainda assim, eu tinha muitas ideias." Kelson começou com pequenos projetos de renovação e acréscimo que permitiram que muitas famílias que viviam sob o mesmo teto tivessem mais espaço e privacidade. Em seguida, ele e a associação de moradores expandiram seus esforços para toda a região do Catumbi. O objetivo era revitalizar a comunidade utilizando melhor o espaço. Entusiasmada com seu sucesso inicial, a associação de moradores criou uma cooperativa que ajuda a financiar materiais de construção a preços baixos e oferece empregos. Como um centro de treinamento, a associação cria indústrias caseiras cujo lucro é devolvido à comunidade para projetos contínuos de atualização e manutenção. Assim que o programa do Catumbi estiver em pleno andamento, Kelson quer estender o programa de revitalização da comunidade para outros bairros do Rio de Janeiro e, depois, para outras cidades do Brasil. Ao criar organizações comunitárias fortes com base na fórmula de sucesso do Catumbi, os bairros podem melhorar substancialmente.

O problema

Nos últimos vinte anos, a população do Brasil mudou de 70% rural para 70% urbana. As cidades estavam mal preparadas para receber o grande fluxo de imigrantes. Os imigrantes que vieram em busca de melhores oportunidades de trabalho muitas vezes permaneceram desempregados. Essa enorme mudança demográfica resultou em uma escassez de mais de dois milhões de unidades habitacionais e no surgimento de favelas e cortios (pensões superlotadas). O problema tem sido especialmente agudo em metrópoles, como o Rio de Janeiro, onde a pressão fundiária e a especulação fez com que os preços dos imóveis subissem drasticamente e ficasse fora do alcance dos operários. Os cidadãos são obrigados a se mudar para a periferia da cidade, longe de seus empregos e meios de transporte convenientes. Foi durante o período de rápido crescimento das décadas de 1960 e 1970 que muitos dos bairros históricos do Rio foram destruídos em nome do progresso e da modernização. Tesouros arquitetônicos foram perdidos e com eles bairros antigos cujo senso de tradição e comunidade eram os pilares de uma sociedade mais estável e segura. Catumbi é um dos poucos bairros próximos ao centro do Rio que ainda permanecem de pé. Tem cerca de 3.500 famílias de classe média baixa, algumas das quais vivem lá há gerações. O Catumbi tem uma tradição de forte atuação comunitária e uma das associações comunitárias mais antigas do Rio. Mas, como em qualquer outro lugar, Catumbi está sofrendo fortes pressões econômicas: suas casas de um a três andares não são consideradas um bom uso da terra; seus prédios e lojas degradados não são lucrativos; é muito difícil conseguir um empréstimo para construir ou restaurar uma propriedade; e muitos dos inquilinos do Catumbi estão desempregados.

A Estratégia

A forte associação comunitária do Catumbi conseguiu convencer o governo e proprietários ausentes a doar terrenos baldios e prédios abandonados, além de isentar de impostos sobre propriedades e taxas de fiscalização para futuros centros comunitários e áreas de recreação. A cooperativa também montou uma fábrica de blocos de concreto que produz e vende blocos pela metade do preço de mercado e gera empregos. Como subproduto do treinamento em alvenaria, carpintaria e encanamento, bem como na fabricação de cerâmica, tapetes e roupas, a associação de moradores pode comercializar seus produtos em lojas locais. À medida que esses projetos são implementados, todos os lucros que eles geram vão para um fundo comunitário cujos objetivos principais incluem a construção de uma casa para idosos, uma cozinha para os pobres, uma creche e um complexo esportivo. Uma biblioteca com 7.000 livros doados já está aberta. "Com a falência de governos e o colapso dos serviços públicos, as comunidades terão cada vez mais que assumir a gestão em suas próprias mãos", diz Kelson. Ele acrescenta que algumas comunidades estão prontas para começar, especialmente aquelas com fortes associações de residentes e um histórico de ação criativa. A estratégia de Kelson é identificar essas comunidades e trabalhar com elas para definir os problemas e as oportunidades alternativas que enfrentam, como está fazendo no Catumbi. Ele espera que depois de trabalhar com três ou quatro comunidades "prontas", eles desenvolverão uma série de opções e exemplos do que pode ser feito e que outras comunidades podem utilizar sem o envolvimento direto de Kelson. Kelson também está trabalhando com o governo do Rio para promover uma ação mutuamente benéfica parceria que reduzirá a burocracia e facilitará melhor o trabalho da associação.