Eliane Lima Dos Santos (Eliane Potiguara)
BrasilAshoka Fellow desde 1992

Eliane Lima dos Santos, também conhecida como Eliane Potiguara, membro da tribo Potiguara, organizou uma rede nacional de mulheres indígenas em um esforço para garantir um futuro melhor para os 220.000 índios do Brasil.

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A Pessoa

Eliane nasceu no Rio de Janeiro depois que sua família emigrou do empobrecido estado da Paraíba, lar dos índios Potiguara. Criada em uma favela, ela foi ridicularizada por outras crianças por causa de sua descendência indígena. Mas tirou forças da mãe e da avó materna, "mulheres com verdadeiro espírito de luta", modelos fortes que fizeram inúmeros sacrifícios para garantir a educação de Eliane. Ainda jovem descobriu sua vocação para a docência: com apenas 12 anos estudava meio período e trabalhava o resto do dia na escola do bairro ensinando alunos a ler e escrever, em troca de um pequeno salário e doações de alimentos . No ensino médio, ela ensinava na escola primária pela manhã, frequentava sua própria escola à tarde e trabalhava como telefonista à noite - todos os dias da semana, inclusive aos sábados e domingos. Depois de se formar, ela lecionou em escolas rurais por mais alguns anos antes de entrar na universidade, onde desenvolveu um interesse pela lingüística indígena. Com dois filhos a reboque, ela parou de ensinar e viajou para o Paraguai, Uruguai e sul do Brasil para estudar os índios Guarani, especialmente o papel social das mulheres. Mais tarde, ela voltou às suas raízes, vivendo entre os índios Potiguara, onde nasceu seu terceiro filho. De volta ao Rio de Janeiro, ajudou a criar um grupo de assessoria para assuntos indígenas na Câmara Municipal. Eliane participa ativamente de várias organizações brasileiras, como a União das Nações Indígenas.

A Nova Idéia

Eliane organizou o Grupo de Mulheres Educadoras Indígenas, conhecido como GRUMIN. Até o momento, são vinte e seis coordenadores regionais implementando um programa básico de educação e conscientização das mulheres em centenas de aldeias. As mulheres recebem um livreto de oitenta páginas que em imagens e termos simples e claros explica a história dos povos indígenas no Brasil e sua contribuição para a história do país. Para a maioria das mulheres, é a primeira vez que tomam conhecimento de fatos ocorridos fora de suas comunidades e têm a oportunidade de refletir sobre sua própria situação como mulheres e nativas brasileiras. Nesse processo, as mulheres mais velhas são incentivadas a compartilhar seus conhecimentos sobre a história e as tradições do grupo indígena. Oficinas de artesanato são organizadas para manter vivos os costumes locais. A ideia do grupo é fortalecer a autoestima e conscientizar as mulheres indígenas que são portadoras de tradição, chefes de família e pilares de suas comunidades, mas foram discriminadas tanto como brasileiros nativos quanto como mulheres. Eles estão aprendendo que são cidadãos com direito a uma boa educação, cuidados médicos decentes e uma quantidade razoável de terra para praticar suas atividades tradicionais de subsistência de agricultura, caça ou pesca. E aprendendo a atuar no sistema político brasileiro, essas mulheres serão mais capazes de garantir esses direitos para suas famílias. ”O resultado desse processo educacional é que as mulheres percebem que têm orgulho e querem preservar suas tradições culturais e valores ", diz Eliane. “Eles também percebem que sua sobrevivência como povo e como nativos brasileiros está ameaçada pela falta de alternativas econômicas”. Eliane trabalha com as mulheres e outros membros da comunidade para encontrar atividades geradoras de renda enraizadas em suas tradições e com base em suas habilidades. Por exemplo, a aldeia ancestral de Eliane no Nordeste do Brasil está trazendo de volta a pesca tradicional - uma atividade que permitiu a sua bisavó adicionar proteínas à dieta familiar e outros bens para a casa por meio do sistema de troca então vigente. Com o passar dos anos, essa atividade foi diminuindo: a madeira usada na fabricação das canoas tradicionais acabou e a competição dos pescadores profissionais tornou-se intensa. Hoje Eliane está revitalizando essa pequena indústria com barcos e técnicas melhores para que mais uma vez enriqueça a alimentação e a economia local.

O problema

Antes da chegada dos exploradores portugueses em 1500, havia cerca de três a cinco milhões de índios no Brasil. As mulheres indígenas gozavam de importante poder de decisão em suas comunidades, mas isso mudou quando os colonizadores forçaram muitos índios a trabalhar, em regime de escravidão, nas plantações. As estruturas sociais tradicionais e os papéis familiares sofreram muito, mesmo onde grupos de índios sobreviveram. Hoje, apenas 220.000 índios sobrevivem no Brasil. Desde o início do século, eles têm sido tratados de maneira condescendente, muitas vezes corrupta, por uma série de agências governamentais. Os programas de assistência oficial, em vez de incentivar os grupos indígenas a continuarem com suas atividades econômicas tradicionais, como lavoura, caça e pesca, distribuíram alimentos e remédios, criando uma dependência destrutiva que continua até hoje. Durante décadas, os índios foram legalmente considerados tutelados do estado, incapazes de tomar decisões por conta própria. A nova constituição brasileira, escrita em 1988, acabou com essa tutela, garantiu aos índios direitos sem precedentes e exigiu a demarcação de todas as terras indígenas. “Mas até agora poucas dessas disposições foram implementadas e ainda menos grupos indígenas estão organizados o suficiente para tirar proveito desses direitos recém-conquistados”, observa Eliane.

A Estratégia

Eliane também quer multiplicar o número de turmas regionais de educação participantes do projeto GRUMIN, além de aumentar a circulação do jornal GRUMIN e de vídeos educativos. Seminários, bem como conferências regionais e internacionais estão sendo planejados para reunir mulheres de vários grupos indígenas para compartilhar experiências. Uma meta ambiciosa e de longo prazo é criar um centro de treinamento profissional e formação de lideranças para mulheres indígenas nos estados de Mato Grosso ou Goiás. Lá, as mulheres participariam de cursos de três meses para desenvolver habilidades de liderança e gestão. Além disso, aprenderiam a desenvolver ainda mais seu artesanato - tecelagem, cerâmica, cestaria, pintura e costura - para criar uma fonte adicional de renda familiar. Ao retornar às suas comunidades, essas mulheres se encarregariam de oferecer um curso semelhante aos seus vizinhos. “Esperamos estimular a conscientização cultural e política das mulheres indígenas em todo o país, bem como incentivá-las a desenvolver variantes de produtos tradicionais (análogos, por exemplo, às joias navajo) que terão grande valor no mercado”, disse Eliane. explica.