Sebastião Alves
BrasilSerta
Ashoka Fellow desde 2015

Sebastião desenvolveu um modelo para a criação de práticas agrícolas sustentáveis e aumento da qualidade de vida no sertão rural, combinando o conhecimento local com a moderna tecnologia agrícola. Este novo modelo de desenvolvimento está espalhado pela região Nordeste do Brasil e pode ser aplicado em qualquer lugar do mundo.

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A Pessoa

Sebastião nasceu na região semiárida do estado do Rio Grande do Norte. Sebastião aprendeu muito sobre a região com seu avô, que era agricultor analfabeto, mas tinha conhecimentos práticos sobre como lidar com o contexto rural no semiárido. As terras de sua família foram herdadas por sua bisavó. Ela recebeu a terra mais seca por causa de sua condição de mulher. Sebastião ajudava o avô em atividades básicas, mas impactantes, como bloquear o rio com pedras. Ele não entendia a importância de tal tarefa na época, mas anos depois esse trabalho seria a base de suas soluções inovadoras de água que fizeram desse terreno a área mais irrigada da região. Quando Sebastião entrou na universidade, tinha a intenção de se tornar técnico rural e voltar para ajudar o avô na lavoura da terra. Porém, seu avô faleceu e Sebastião aprendeu uma agricultura diferente que, diferente das práticas de seu avô, não estava ligada à realidade local. Durante a seca de 1979, que durou 5 anos e matou cerca de 2 milhões de pessoas, Sebastião começou a trabalhar com projetos da Igreja que combatiam os efeitos da seca. Como as pessoas não tinham nada para comer; o projeto implantou hortas e introduziu a criação de cabras nas comunidades - a cabra é muito resiliente em áreas com poucos recursos e climas secos, e seu leite forte é capaz de ajudar pessoas com desnutrição. Em pouco tempo, essa região possuía a maior cultura caprina do Brasil. Sebastião percebeu então que havia maneiras simples de garantir uma vida digna no semiárido; formas de aprender a conviver com o clima e a natureza. Resolveu se comprometer a levar esse conhecimento aos sertões. Com recursos escassos, Sebastião achou que era preciso inventar soluções para a região a partir de objetos reciclados. Ele viu o Sertão como uma terra cheia de possibilidades e experiências a serem testadas. Ele passou grande parte de seu tempo criando invenções com o objetivo de tornar a vida mais fácil para os habitantes locais. Uma delas era uma bicicleta que coletava água de poço pedalando. Ele aproveitou os recursos de sucata disponíveis na região, e isso transformou a realidade das mulheres nordestinas que percorriam longas distâncias para buscar água - as crianças transformavam essa atividade em uma brincadeira enquanto andavam de bicicleta. Sebastião também percebeu que essa simples invenção poderia ser uma oportunidade de aprendizado para a comunidade. Por meio dessa tecnologia e das atividades cotidianas, eles puderam aprender física, química, biologia, etc. de forma interativa e lúdica. Sebastião voltou então para a universidade, onde estudou biologia, trabalhou por um curto período em uma fundação que visava ajudar dependentes químicos em sua reabilitação e, depois, passou quatro anos como secretário da Agricultura do Recife. Tião foi então chamado para trabalhar na SERTA, organização fundada por parceiros que trabalharam com ele no projeto da Igreja (um deles era o Ashoka Fellow, Abdalaziz Moura). Tião trouxe para a SERTA toda a sua expertise em invenção de tecnologia de produção agrícola. No entanto, Tião sentiu que a sua missão estava no território mais abandonado de todos, o Sertão. Tião decidiu então fundar uma escola de campo em Ibimirim, Pernambuco. Ele utilizou as tecnologias que desenvolveu para ensinar os moradores a lidar com a terra em que viviam de forma preventiva e sustentável, reduzindo assim o êxodo para os centros urbanos. Embora Tião utilize o conteúdo pedagógico do SERTA, seu trabalho é distinto e adaptado ao contexto do Sertão, onde os problemas sociais são únicos e exacerbados, e suas soluções estão ligadas à compreensão e utilização das realidades locais de clima, solo e recursos. Sebastião vê o Sertão como uma lição que pode ser ensinada a todos: o sol escaldante pode se transformar em energia solar, que pode ser exportada para todo o país a baixo custo e sem poluição. A riqueza mineral ainda está escondida no subsolo e pode ser utilizada. Sua diversidade animal e vegetal torna esta região semi-árida uma fonte potencial para ajudar a combater os devastadores problemas de fome em todo o mundo. Se essa região negligenciada fosse bem desenvolvida, poderia ser provedora de alimentos, energia e produtos de origem mineral para o Brasil, ao mesmo tempo que servia de modelo para outras regiões “desfavoráveis” do mundo.

A Nova Idéia

Sertão, a região desértica do Nordeste do Brasil, é amplamente desvalorizada e subdesenvolvida. Seu clima seco, falta de vegetação e seus habitantes, os “sertanejos”, são considerados o oposto do que o Brasil vê como desenvolvimento. O estereótipo negativo da região é muitas vezes reiterado pelos próprios habitantes do Sertão. Além disso, a educação é importada de outro lugar e não foi adaptada às realidades locais. As crianças aprendem desde os primeiros anos que a única forma de alcançar o sucesso é a procura de oportunidades nas grandes cidades, o que resulta no êxodo rural, enquanto as que ficam no Sertão pouco valorizam e sabem menos sobre a sua própria região, reforçando, por sua vez, a ciclo de pobreza e desprezo pelo meio ambiente. Porém, Sebastião Alves vê algo diferente no Sertão - uma universidade invisível. Pessoas que sobrevivem em tais condições adversas acumularam muito conhecimento não ensinado nas universidades tradicionais. Para transformar essa realidade, Sebastião criou o SERTA, Serviço de Tecnologias Alternativas do Sertão, com o objetivo de retrabalhar a educação e a tecnologia para valorizar os recursos locais e capacitar os agricultores. O trabalho de Sebastião é pautado pelo princípio de que o desenvolvimento deve: 1) basear-se nas condições locais; 2) respeitar o conhecimento local; 3) aproveitar os recursos locais. Ele acredita que, valorizando as condições, conhecimentos e recursos locais, e entendendo os desafios, mas também as potencialidades, o desenvolvimento sustentável pode acontecer com sucesso tanto no Sertão como no resto do mundo. Por meio da SERTA, Sebastião coleta, adapta e cria tecnologias e técnicas que podem melhorar a vida das pessoas que vivem no meio rural. Para desenvolver tecnologias aprimoradas e depois validá-las cientificamente, Sebastião estabelece parcerias com universidades. Na SERTA, os alunos são motivados a criar coletivamente soluções para seus problemas. O SERTA funciona como um centro de demonstração, e recebe a visita de grupos de agricultores, técnicos, professores e acadêmicos de todo o Nordeste, para mostrar que é possível viver de forma sustentável no Sertão com técnicas básicas e poucos recursos. Para divulgar este trabalho, Sebastião criou as “Propriedades de Referência”, terrenos de estudantes que aplicaram os princípios e tecnologias do SERTA e estão geograficamente dispersos. Eles servem como centros de demonstração menores para os agricultores copiarem. A SERTA Ibimirim já recebeu mais de 200 alunos de seis estados do semi-árido. O objetivo de Sebastião é transformar seu programa em um curso de graduação reconhecido pelo Ministério da Educação. Sebastião também influencia as políticas públicas voltadas à reforma das escolas rurais para que ofereçam uma educação contextualizada nas condições locais. Ele também está tentando fazer com que o estado de Pernambuco aplique sua lei de coexistência no clima semi-árido, ao mesmo tempo em que incentiva os estados vizinhos da região Nordeste a desenvolver leis com propósitos semelhantes. No longo prazo, Sebastão vislumbra seu princípio e suas tecnologias como modelo produtivo e filosofia de vida dos sertanejos, servindo de arquétipo para outras regiões do país e do mundo replicarem.

O problema

O paradigma de desenvolvimento do Brasil está focado no desenvolvimento econômico ao invés da escassez de recursos e questões sociais relacionadas. Especialmente nas grandes cidades, as pessoas vivem na ilusão da abundância de recursos - São Paulo, por exemplo, é uma cidade construída sobre os rios, mas, no caminho para se tornar a potência econômica do Brasil, seu rápido crescimento ultrapassou a capacidade de reabastecer sua agua. Mesmo em meio a uma grave crise de água, os habitantes de São Paulo quase não conseguiram reduzir o consumo e o desperdício de água. As pessoas não estão cientes de seu impacto ambiental e raramente pensam sobre as origens de sua fonte de água além de sua torneira. Sertão, o deserto árido do Brasil, é amplamente desvalorizado; com suas características predominantemente rurais, clima seco, vegetação seca e solo raso, não abriga características de desenvolvimento. O modelo de desenvolvimento do Brasil valoriza atividades produtivas lucrativas e regiões de abundantes recursos naturais, ao mesmo tempo em que padroniza boas atividades produtivas, hábitos e valores, mas exclui particularidades regionais. Por exemplo, o semiárido tem o hábito de comer cenoura e alface, embora sejam culturas que exigem muita água para serem cultivadas. Como resultado, as plantações e a vegetação locais são negligenciadas, reforçando a impressão das pessoas de que suas terras não valem muito. Mesmo as organizações que trabalham com a agricultura e dão suporte técnico aos agricultores da região, apenas lhes mostram tecnologias e técnicas padronizadas que não foram adaptadas à realidade local. Embora o Sertão tenha grande potencial, a padronização global da agricultura suprime as necessidades específicas das regiões que poderiam trazer segurança alimentar e riqueza. Ao lado da padronização da agricultura, as instituições de ensino valorizam um modelo de ensino que privilegia os centros urbanos e econômicos, mas negligencia as realidades locais. “Desenvolvimento” está ligado aos centros urbanos de negócios e áreas ricas em vegetação. Isso é evidente no Sertão, onde o sistema de ensino se concentra mais nos problemas do território do que no seu potencial, enquanto a riqueza natural do ecossistema é ignorada por completo. A ideia de que esta região consiste apenas em seca e pobreza é prevalente e é compartilhada pela perspectiva dos povos locais. Apesar da resiliência e capacidade dos sertanejos de sobreviver com poucos recursos, eles e seu ecossistema são menosprezados. A agricultura familiar é vista como meio de sobrevivência, e o fenômeno das secas jamais permitiria o desenvolvimento agrícola, econômico ou produtivo da região. Por isso, é a atividade dos empobrecidos, daqueles que são atingidos econômica e socialmente pelas secas, e que jamais escaparão dessa condição. O conhecimento local é desvalorizado e os agricultores são vistos como incapazes de melhorar suas condições de vida na seca do Nordeste. Nesse contexto, os jovens têm pouco interesse pelas atividades agrícolas e são ensinados desde cedo que para ter sucesso devem buscar oportunidades nas grandes cidades. Isso resulta em um êxodo rural - junto com outros problemas relacionados à pobreza urbana. Os indivíduos que acabam ficando no Sertão plantam lavouras inadequadas às condições locais por não conhecerem as características de sua própria região. O plantio dessas safras é incentivado por grandes empresas que as comercializam. Este sistema reforça um ciclo de pobreza e abandono do meio ambiente. Os agricultores reproduzem práticas agrícolas baseadas na lógica do agronegócio, mas o fazem na exploração da natureza, sem considerar a importância do uso sustentável dos recursos naturais. As tecnologias rurais são caras e consomem muitos recursos, portanto, a maioria das pessoas não tem acesso a elas. Existem soluções que combatem esses desafios na forma de tecnologias e técnicas de produção simples e de baixo custo e outras mais elaboradas, mas falta interesse dos líderes políticos e grupos que detêm o poder de mudar um sistema de desigualdade e subserviência. Portanto, é necessário que os habitantes locais se capacitem.

A Estratégia

Sebastião baseia seu trabalho no princípio de que o desenvolvimento sustentável deve contar com o conhecimento local das condições e recursos. Pensando nisso, Sebastião vislumbra que os desafios que o Sertão enfrenta - ao lado de todos os ecossistemas do mundo - se bem estudados e compreendidos, podem se transformar em oportunidades. O ponto de partida é conhecer os desafios e potencialidades da região por meio do conhecimento de quem lá vive e desenvolveu tecnologias para sobreviver. Morar na região semiárida é possível - as famílias locais fazem isso, portanto, valorizar e coletar seus conhecimentos é fundamental antes que as boas práticas possam ser aprimoradas e compartilhadas. Tião fundou a SERTA, escola técnica em agroecologia - uma abordagem da agricultura sob a ótica da ecologia - no Sertão, em Pernambuco. A SERTA foi criada inicialmente pelo Ashoka Fellow, Abdalaziz Moura na floresta de Pernambuco, mas Sebastião imaginou que a agroecologia poderia ser levada para uma região com condições adversas, onde realidade e miséria são vistas como sinônimos. A SERTA é o veículo de Sebastião para aplicar e divulgar seus princípios ; e desenvolver técnicas e tecnologias para o desenvolvimento sustentável que mostrem potencial de sucesso em uma região vista como desfavorável. Com base nos princípios da agroecologia, a SERTA ensina os jovens sertanistas a aproveitar as riquezas naturais da região e criar uma agricultura sustentável para se sustentar em harmonia com o meio ambiente, quebrando assim um ciclo anterior de miséria. Seu ensino inverte ideias sobre o que deve ser valorizado no semiárido e faz com que a população local reconheça o potencial natural do sertão. Isso os incentiva a construir modelos de produção para o campo, criando novas ou adaptando tecnologias antigas que são ambientalmente corretas, socialmente inclusivas e economicamente viáveis para ajudar os agricultores a lidar com os males da seca. Sebastião trabalha para criar tecnologias e técnicas que melhoram quatro áreas de desenvolvimento: energia, água, nutrientes do solo e segurança alimentar. Seu modelo vem do estudo das realidades locais e da tentativa de entender as potencialidades da região. Por exemplo, um dos principais desafios do Sertão é a exposição solar - que Sebastião vê como um enorme potencial para a energia solar. Embora o Sertão seja seco, este semi-árido tem a maior abundância de chuvas do mundo - lá tem água, só precisa ser captada e bem manejada; o solo é rico, mas em nutrientes que não são valorizados pela agricultura tradicional; O Sertão possui culturas locais ricas em nutrientes que não são valorizadas pela gastronomia tradicional, mas que podem garantir a segurança alimentar da região. Além de pesquisar o ecossistema local, Sebastião formou um grupo pioneiro para estudar um viveiro botânico de cactos locais. O Sertão tem uma vegetação única, a caatinga, sobre a qual poucas pesquisas foram feitas. O Instituto Federal de Goiás fez parceria para pesquisar um cacto específico - mandacaru - que não tem espinhos. Em época de seca, o mandacaru é a única planta que sobrevive e salva os animais da fome, mas não há pesquisas sobre ele e nenhuma educação sobre como plantá-los, principalmente os sem espinhos. O Instituto Federal está agora levando este projeto para pesquisar plantas do ecossistema da região centro do Brasil conhecido como Cerrado. A criação de tecnologia do programa visa usar a menor quantidade possível de recursos, às vezes até usando materiais reciclados para construir coisas novas. Mais de 70 tecnologias diferentes foram criadas, também por meio de parcerias com universidades. No campo do desenvolvimento de energia, muitas tecnologias estão focadas na energia solar. Como os painéis solares são caros, difíceis de construir e exigem licença do inventor alemão, Sebastião inventou um painel solar feito de latas. Ele agora está trabalhando em conjunto com o Instituto Federal da Paraíba para usar essa tecnologia para ferver e purificar água. No campo da água, a tecnologia visa reduzir o uso de água. Os exemplos variam de cisternas a uma pia substituta feita de bacias que conseguiram reduzir 90% do uso de água para lava-louças da SERTA. Na área de nutrientes, exemplos são os biodigestores que produzem fertilizantes. Na área de segurança alimentar, os esforços são voltados para o aumento da produtividade e diversidade das culturas plantadas pelos agricultores, especialmente incentivando o crescimento de culturas locais com alto teor de nutrientes. Sebastião criou uma Unidade Básica de Sustentabilidade (UBS), um minissistema que é a necessidade básica de que uma família precisa para viver de forma sustentável, tudo desenvolvido de forma a utilizar o mínimo de recursos possível. Inclui uma cisterna, um jardim e dois animais de fazenda. Os animais alimentam a família, geram renda e produzem matéria orgânica, que se transforma em composto. O composto é então usado na horta, que alimenta a família. A construção de cisternas já se tornou política pública oficial na região do Sertão e Sebastião quer incluir o restante de sua UBS na política. Se bem-sucedidas, todas as casas do semiárido terão o mínimo necessário para subsistência. Sebastião transformou a SERTA em um laboratório de tecnologia, com o objetivo de melhorar a vida dos agricultores. Este laboratório reúne tecnologias desenvolvidas pelos diversos produtores da região, servindo como um pólo de tecnologia que os alunos podem acessar e ajudar a melhorar ou se adaptar à sua realidade. Paralelamente, Sebastião trouxe para a SERTA a resolução coletiva de problemas, aplicada de forma transversal, em todas as disciplinas. Os alunos trazem desafios de suas realidades locais e são incentivados a criar novas técnicas e tecnologias para enfrentá-los. Além disso, a construção de soluções precisa ser adaptada aos desafios locais e, por sua vez, resolvida por meio do conhecimento local. Além do curso de agroecologia, o SERTA mantém um centro demonstrativo aberto à visitação para mostrar a técnicos, professores e agricultores todas as técnicas necessárias para viver de forma sustentável e conviver no semiárido. A SERTA Ibimirim recebeu mais de 5.000 visitas, principalmente de agricultores, que aprendem os princípios de Sebastião enquanto são orientados pelas tecnologias subsequentes. Esses agricultores aprendem a valorizar as condições locais e seus próprios conhecimentos, bem como novas formas de plantar e viver de forma adequada, utilizando os recursos locais, e tecnologias simples que melhoram a convivência, geram receita e dão segurança alimentar, hídrica e energética para suas famílias. Esse processo incentiva os agricultores a testar as tecnologias em suas próprias comunidades. As estratégias de Sebastião para replicar seus princípios e técnicas são conhecidas como “Propriedades de Referência”, casos-modelo em que os alunos aplicaram todas as técnicas e tecnologias em seus terrenos, demonstraram grande interesse em dar continuidade e atualizar este trabalho, e contam com o apoio de suas famílias. para fazer isso. Estes alunos são preparados e certificados pela SERTA como detentores de Propriedades de Referência que se tornarão centros de demonstração dos princípios e tecnologias de desenvolvimento de Sebastião, bem como a prova do conceito de que é possível viver de forma sustentável no semiárido, não só em uma instituição como a SERTA , mas também nas terras agrícolas locais. São 10 dessas propriedades espalhadas por todo o estado de Pernambuco, e o objetivo é difundir os princípios da SERTA em toda a região Nordeste para oferecer acesso a mais agricultores. Essas propriedades são visitadas por agricultores, servidores públicos e acadêmicos, além de gerar receitas para as famílias. Sebastião tem desenvolvido parcerias com pesquisadores e professores de diferentes universidades da área, como a Universidade Federal de Pernambuco, para validar cientificamente essas tecnologias e levá-las às salas de aula das universidades. Já mais de 10.000 pessoas visitaram os dois centros de pesquisas, SERTA Gloria do Goitá e SERTA Ibimirim. Os visitantes também trazem informações sobre técnicas e tecnologias que estão sendo desenvolvidas pelos produtores em suas áreas de acordo com os desafios locais que enfrentam, para que a SERTA esteja sempre atualizada e possa apoiar esses produtores no aprimoramento de suas tecnologias. O trabalho da SERTA já se espalhou por todo o semiárido. A SERTA Ibimirim já recebeu mais de 200 alunos de 123 municípios e seis estados do Brasil. A maioria dos alunos é formada como técnicos em agroecologia. Eles são jovens e a maioria são mulheres. A SERTA influencia políticas públicas ao participar da ASA - Articulação do Semiárido, onde preconiza: 1) a educação contextualizada nas escolas rurais; 2) o estado de Pernambuco para cumprir sua lei de “convivência com o Semiárido”; 3) que outros estados do Nordeste criem leis que apoiem a convivência com o semiárido, seguindo o exemplo do estado de Pernambuco. Sebastião também pretende criar redes técnicas em agroecologia, voltadas especificamente para conviver com a seca, preservar o meio ambiente e valorizar o conhecimento das famílias rurais. Sebastião antevê que com o tempo seus princípios e tecnologias inovadoras se concretizarão não apenas como um modelo de produção, mas também como uma filosofia de vida para as comunidades rurais que pode ser replicada por regiões de todo o país e do mundo. Ele acredita que, valorizando as condições, conhecimentos e recursos locais, entendendo desafios, mas também potencialidades, o desenvolvimento sustentável é alcançável não só no Sertão, mas em qualquer parte do mundo.

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