Your Privacy

Changemaker Library uses cookies to provide enhanced features, and analyze performance. By clicking "Accept", you agree to setting these cookies as outlined in the Cookie Policy. Clicking "Decline" may cause parts of this site to not function as expected.

Jeronimo Villas Boas
BrasilAshoka Fellow desde 2015

Jeronimo está trabalhando com diferentes setores para reconhecer e fortalecer a apicultura nativa, valorizando a diversidade do seu produto, gerando renda aos seus responsáveis tradicionais e, finalmente, conservando as 250 espécies de abelhas nativas.

#Desenvolvimento Rural#Conservação / proteção#Preservação cultural#Desenvolvimento e prosperidade#Meio Ambiente e Sustentabilidade#Direitos Humanos e Igualdade#Pessoas indígenas#Favo de mel#Apicultura#Apicultor#Mel de abelha#Abelha#Querida#Inseto

A Pessoa

Jerônimo passou a infância na Amazônia e cresceu brincando com seus amigos indígenas, pois seus pais são antropólogos que trabalham com indígenas. Quando ele tinha 6 anos, sua família mudou-se para Brasília, mas a casa deles sempre estava cheia de gente de todo o Brasil e eles ainda viajavam muito. A infância fez com que Jerônimo se apaixonasse pela diversidade - das pessoas e da natureza. Ao longo de sua vida, Jerônimo veria a discrepância nas informações que seus pais traziam do trabalho com as tribos indígenas - como o avanço da plantação de soja em direção às terras indígenas - e nas informações veiculadas pela mídia, e passou a questionar a economia brasileira modelo de desenvolvimento, que exclui grupos menores. Jerônimo cursou Ecologia, quando fez estágio no Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Agrícola e Florestal) em um projeto de apicultura na Amazônia. Essa experiência fez com que se apaixonasse pelas abelhas nativas e, depois disso, todos os seus estudos na universidade foram relacionados à apicultura e ao mel, embora não houvesse muitas informações disponíveis sobre o assunto em relação às abelhas nativas ou seu mel. Depois de formado, Jerônimo decidiu fazer um mestrado na Paraíba, estado fora do conceituado circuito acadêmico, mas que tradicionalmente fazia uso de mel. Lá ele pôde constatar a presença de colmeias nos quintais das moradias pobres, e isso se tornou o objeto de suas pesquisas. Ao fazer o mestrado, Jerônimo percebeu que as comunidades tinham muito a ensinar para a universidade sobre o assunto. Na universidade, ele identificou os vários participantes do mundo envolvidos no manejo e na conservação das abelhas e percebeu que todos trabalham isoladamente. Ele começou seu trabalho então, para amarrar pontas soltas: a necessidade de conservação das abelhas nativas e seu impacto ambiental; o enfraquecimento da tradição de apicultura nativa nas comunidades; a oportunidade de geração de renda por meio da produção de mel, em contextos nacionais e globais que valorizam os produtos locais; a existência de movimentos sociais como o Slow Food, defendendo a importância da produção sustentável de alimentos e valorizando o papel de seus produtores; a existência de OSCs aptas a atuar no fortalecimento das cadeias produtivas do mel; a ausência de regulamentações específicas para a produção de abelhas nativas e a incapacidade do governo de entender as características da agricultura familiar brasileira em vez de buscar atalhos para a padronização dos sistemas de produção. Jerônimo também publicou o Manual Tecnológico: As abelhas melíferas em uma picada, livro que mostra a diversidade de saberes e práticas associadas à criação de abelhas nativas no Brasil e tem servido de base para essas organizações na luta pela regulamentação do indígena. cadeia produtiva das abelhas e a valorização das abelhas nas políticas públicas nacionais.

A Nova Idéia

No Brasil, existem cerca de 250 espécies de abelhas nativas, mas a maioria dos apicultores usa práticas destinadas às abelhas africanas. Como resultado, as abelhas nativas estão à beira da extinção e muitas plantas não são polinizadas porque as abelhas africanas não são atraídas por elas. Diante dessa crescente questão ambiental, Jeronimo Villas Boas está trabalhando para promover a diversidade nas práticas de apicultura, espécies apícolas, seus tratadores e produtos, que formalmente não existem no Brasil. Por acreditar que a melhor forma de preservar a biodiversidade é utilizando-a de forma sustentável, Jerônimo trabalha para fortalecer a atividade da meliponicultura (a cultura das abelhas nativas), técnica e conceitualmente. Jeronimo atende comunidades que tradicionalmente praticam a meliponicultura e são os guardiões do país desses insetos nativos. Garantindo que as técnicas são adequadas às comunidades através da participação comunitária, Jeronimo pretende fortalecer a cadeia de valor da indústria. Seu trabalho gera receita com a venda de mel, traz segurança alimentar e melhora a saúde local, pois o mel pode ser usado para fins médicos e é um substituto saudável do açúcar. Também resgata uma parte da identidade da comunidade, na qual a meliponicultura desempenha um papel central, transmitindo conhecimentos das gerações mais velhas para as mais novas. Ambientalmente, a apicultura nativa evita o desmatamento, já que preservar a floresta é fundamental para a atividade. A partir deste trabalho técnico, Jeronimo consegue recolher conhecimentos ainda não formalizados nas universidades e com elas se associar para sistematizar de forma a criar regulamentos para a produção de mel de abelha autóctone. Jeronimo se tornou um proeminente defensor das abelhas no Brasil e está construindo a base técnica para uma regulamentação que favorece os pequenos produtores. Jeronimo também faz parte do movimento Slow Food, onde promove discussões entre produtores e consumidores de mel da América Latina, e mantém parcerias com importantes chefs do país, para estimular a demanda e agregar valor às variedades de mel de abelhas nativas. Para o futuro, Jerônimo acredita que o regulamento vai estimular o consumo e a produção de mel de abelha nativa, o que lhe permitirá replicar suas técnicas de apicultura em diversas comunidades do Brasil. Além disso, a estratégia de Jeronimo de padronizar a diversidade pode ser aplicada a outros produtos naturais além do mel.

O problema

A importância das abelhas e os desafios relacionados à conservação de sua biodiversidade são agora questões globais. As abelhas são atores importantes na manutenção dos ecossistemas naturais e agrícolas. Segundo a ONU, 73% das espécies de plantas cultivadas em todo o mundo são polinizadas por algum tipo de espécie de abelha, assim como um terço dos alimentos consumidos pelo homem. Os serviços de polinização prestados por esses insetos em todo o mundo são avaliados em US $ 54 bilhões por ano. A contribuição das abelhas para a vida das plantas e a manutenção da variabilidade genética é imensa. O declínio acelerado das populações de abelhas, principalmente as selvagens, é uma questão que está chamando a atenção de governos em todo o mundo por causa de seu enorme impacto no meio ambiente, na agricultura e no bem-estar das comunidades. Apesar de sua importância, as pessoas sabem muito pouco sobre as abelhas. Existem mais de 500 espécies de abelhas produtoras de mel sem ferrão na América Latina - 250 somente no Brasil. A grande diversidade de espécies, aliada à diversidade de plantas do Brasil, permite a produção de mel com uma infinidade de sabores, aromas e densidades. A atividade de apicultura nativa existe há anos, exercida por povos indígenas, que são os guardiões históricos dessas espécies de abelhas, responsáveis pela sua conservação. As abelhas nativas são mantidas de diferentes maneiras e seu mel é utilizado para diversos fins, como alimentação e remédios, dependendo da região e da cultura dos tratadores. Porém, essas abelhas nativas, seu mel e seus produtores não estão formalmente organizados no Brasil, pois são desconhecidos do governo, da academia e da sociedade em geral. Quando se pensa em abelhas, as pessoas imediatamente pensam em Apis mellifera, a abelha preta e amarela que pica, também conhecida como "abelha melífera". Esta espécie não é nativa do Brasil ou da América Latina; foi trazida da África pelos portugueses no século XIX e, devido à sua capacidade de se adaptar a diferentes climas e encontrar alimento - néctar e pólen - em diversas espécies vegetais, a abelha africana mudou-se de São Paulo para se espalhar rapidamente pela América. Por se tratar de uma abelha muito produtiva, a produção de mel foi padronizada como apicultura - cultura de Apis mellifera - essa atividade cresceu junto com a abelha, e hoje o mel consumido pelas famílias brasileiras é produto desses insetos estrangeiros. Apesar de sua produtividade, a abelha africana não pode polinizar todas as plantas. Ainda assim, o governo brasileiro não reconhece formalmente a meliponicultura (apicultura nativa), e a legislação que regulamenta o comércio de produtos de origem animal apenas permite o comércio de produtos Apis mellifera. O governo brasileiro regulamenta os produtos na lógica do agronegócio - valorizam-se os produtos que podem ser produzidos em massa, e os produtos produzidos em escala artesanal com o uso de conhecimentos e tecnologias locais são marginalizados, às vezes acusados de "ameaçar a segurança alimentar". O mel de abelha nativa e sua cadeia econômica são, portanto, marginalizados e limitados à escala artesanal, apesar das variedades do produto, não tem muito valor de mercado. Isso impede que as comunidades tradicionais de guardiões dessas espécies, fundamentais para a conservação do meio ambiente, gerem renda, ou as estimula a manter as abelhas africanas. No meio rural, a maioria das moradias tem uma colmeia no quintal, que muitas vezes é ocupada pelas famílias quando se mudam para as cidades em busca de melhores condições de vida - a colmeia representa uma ligação à terra. Além disso, passar o conhecimento cultural para a próxima geração é atualmente um grande desafio para a vida tradicional e rural. Os jovens estão cada vez mais relutantes em trabalhar no campo, especialmente em uma atividade tão desvalorizada como a meliponicultura. Além disso, pouca tecnologia está disponível para apoiar as famílias nessa atividade. Existem algumas instituições rurais que promovem a apicultura nativa no Brasil para o desenvolvimento econômico, como Emater, Senar e Sebrae. No entanto, essas organizações "vendem" um pacote de tecnologia padronizado, desvinculado do conhecimento local e pouco adaptável, sendo, portanto, insustentável a médio e longo prazo. Valorizar e viabilizar a atividade tradicional da “apicultura” é uma forma de estreitar os laços com a terra e com a identidade. Para ajudar na preservação das abelhas nativas, é fundamental viabilizar sua cadeia produtiva e respeitar a identidade cultural da prática. Se valorizada, a diversidade das nativas o mel de abelha tem potencial para atrair um mercado consumidor que valoriza produtos tradicionais e diferenciados e pode oferecer oportunidade de geração de renda para comunidades que criam abelhas nativas.

A Estratégia

Para Jerônimo, a valorização dos produtos e produtores de abelhas nativas é fundamental para sua conservação. Os apicultores são os guardiões das espécies em suas regiões de origem, mas precisam de apoio, ou pelo menos redução de obstáculos. Para isso, criou a Kamboas Socioambiental para atuar tanto na área técnica quanto conceitual. A área prática garante o fortalecimento das cadeias produtivas da meliponicultura (apicultura nativa) com comunidades tradicionais e fazendas familiares em diversas regiões do Brasil, enquanto a vertente conceitual de seu trabalho busca conscientizar sobre o valor das abelhas e seus tratadores na sociedade no Brasil. geral e trabalha no sentido de estabelecer políticas públicas que reconheçam e permitam essa atividade. O trabalho técnico de Jerônimo é voltado para comunidades que têm uma relação tradicional e histórica com as abelhas nativas. Seu objetivo é gerar receita e segurança alimentar para as famílias, junto com a conservação das abelhas nativas. Para isso, ele desperta o rico conhecimento tradicional da comunidade, agregando conhecimentos externos e desenvolvendo tecnologias sociais, sempre adaptadas às realidades locais. Seu trabalho sempre começa com um diagnóstico da realidade local, podendo ir desde a implantação de novas colmeias nas comunidades, até o apoio ao escoamento da produção e comercialização do mel. A metodologia não é baseada em uma solução padronizada, mas varia de acordo com as diferentes realidades. Jerônimo reúne saberes e práticas de comunidades e outras formas de conhecimento de todo o país, dependendo da realidade local, para valorizar a produção. Sua abordagem envolve os povos indígenas e comunidades tradicionais e respeita os modelos tradicionais de organização, com um sistema de adesão voluntária aos arranjos produtivos. As comunidades, às vezes organizadas em associações, participam do planejamento geral e as diretrizes dos projetos são definidas de forma colaborativa. Esse trabalho técnico foi realizado em três regiões e é adaptado de acordo com as diferenças locais: no estado do Espírito Santo, na terra indígena dos grupos Guarani e Tupiniquim; no estado de Mato Grosso, com três etnias no Parque Indígena do Xingu; e no estado do Rio Grande do Norte, com uma associação de jovens agroecologistas da cidade de Jandaíra. No Espírito Santo, por exemplo, as abelhas nativas foram extintas devido ao desmatamento local, mas os indígenas relataram o hábito de comer mel de abelhas nativas no passado. Assim, após planejamento e reuniões com as comunidades, foi elaborado um plano de resgate da meliponicultura. Foram adquiridas 24 colônias de uma espécie que os tupiniquins relataram ser a mais relevante para suas tradições, e pessoas que haviam demonstrado interesse em contribuir com esse projeto participaram de cursos básicos de meliponicultura e multiplicação de colônias. Cada família trabalha um ano na multiplicação das colônias, antes de iniciar as atividades produtivas; novas colmeias são então doadas a outras famílias, que fazem o mesmo. Hoje, este território possui 40 centros apícolas e administra mais de 450 colônias. No Xingu, porém, havia apicultura nativa, mas não era utilizada como meio de geração de renda. Assim, o desafio de Jerônimo é desenvolver tecnologias que apoiem a geração de renda. Entre as tecnologias criadas, está uma bomba de sucção de mel que funciona sem energia elétrica e um processo de maturação diferenciado. Um dos maiores desafios do mel de abelha nativa é garantir a vida útil, por se tratar de um produto mais líquido, muito suscetível à fermentação. Observando que as comunidades tradicionais têm o hábito de consumir mel fermentado, Jeronimo decidiu não lutar contra a fermentação, como fazem as organizações rurais, e experimentou vender o mel fermentado como produto final. Este produto diferenciado, com conotações mais ácidas e levemente alcoólicas, foi bem recebido pelo mercado. Foi então possível colocar à venda um produto estável - um produto que não estragava rapidamente, com custos menores e se beneficia de suas características especiais. Isso também influenciou o desenvolvimento de um sistema tecnológico para atender aos requisitos básicos de vigilância sanitária, adaptando técnicas de produção artesanal de cerveja, já disponíveis no mercado, para a fermentação do mel. No Rio Grande do Norte, existe um grupo de jovens trabalhando para evitar o declínio da meliponicultura. Nesse caso, o trabalho de Jerônimo apoia o fortalecimento do grupo, organizando a produção para aumentar a produtividade, agregando valor ao produto e buscando mercados alternativos. O Brasil possui uma grande diversidade de espécies de abelhas, contextos ambientais e culturais onde existe a cultura apícola, portanto este trabalho pode ser replicado em qualquer arranjo produtivo com mobilização social. A estratégia de Jeronimo para entrar nestas comunidades é através de parcerias com OSCs que já atuam nestes territórios e já estão ligadas à comunidade, como é o caso do ISA (Instituto Socioambiental, do Bolsista Beto Ricardo). No plano conceitual, Jerônimo atua na educação ambiental, na conscientização social, na regulamentação da legislação e na produção e divulgação de conteúdo. Para isso, a atuação de Jerônimo é ampla, reunindo diversos atores: movimentos sociais, setor social, governo, universidades, setor privado. Por meio do projeto Iraí, Jerônimo visa difundir a meliponicultura para espaços públicos, como escolas e parques. Ele promove a educação ambiental por meio da discussão de questões associadas à conservação das abelhas nativas e treina jovens estudantes e pequenos agricultores em meliponicultura, produção de mel e multiplicação de colônias. Jerônimo integra o movimento Slow Food, no qual é figura de destaque em temas relacionados aos produtos apícolas nativos. Seu trabalho nessa instância já resultou em duas moções de conscientização governamental - uma de âmbito nacional, para o Ministério da Agricultura, e outra latino-americana, para o Mercosul. Jeronimo também possui parcerias com importantes restaurantes e chefs do Brasil, o que tem atraído muita atenção de um mercado consumidor que valoriza os produtos tradicionais, incentivando o seu consumo e gerando demanda. Em termos de ação política, Jerônimo influenciou diretamente a histórica inclusão dos produtos de abelhas nativas no RIISPOA (Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal). Embora tenha sido um grande passo, limitou-se a definir a existência desses produtos. A legislação real, que de fato regulará a cadeia produtiva, será criada em resoluções específicas. O desafio é construir um modelo não exclusivo que respeite a complexidade e a diversidade das espécies de abelhas nativas, a vegetação brasileira e a capacidade de produção dos pequenos agricultores. Consequentemente, a prioridade atual de Jerônimo é criar uma base técnica para a implementação desse regulamento, pois, se não for bem realizado, pode acabar padronizando práticas e prejudicando os pequenos produtores. Esse conhecimento ainda não existe formalmente, então Jerônimo está utilizando seu trabalho técnico e firmando parcerias com universidades e centros de pesquisa para analisar e sistematizar os processos produtivos locais. Em dois anos, Jerônimo terá um dossiê completo para ser entregue ao Ministério da Agricultura para subsidiar o processo regulatório. Este dossiê levará em consideração os perfis dos criadores de abelhas nativos do Brasil, para incluir suas capacidades de produção no regulamento. A lógica de trabalho de Jerônimo é preservar os guardiões da diversidade, e sua atuação pode servir de modelo para valorizar e viabilizar a cadeia produtiva do mel de abelhas nativas em outros países da América Latina, além de potencial expansão para outros produtos da sociobiodiversidade, que são muitas vezes sufocado pelo modelo homogeneizador do agronegócio, como o leite de cabra.