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Carlos Nobre
BrasilAshoka Fellow desde 2021

Por quase cinquenta anos, Carlos Nobre tem desempenhado um papel de liderança em chamar a atenção pública e política para a importância da Amazônia e das florestas tropicais em geral, influenciando avanços científicos e políticos importantes e mobilizando pessoas em todos os setores para sua proteção. Com base nessa experiência, ele agora está criando o plano para um novo paradigma de desenvolvimento na Amazônia e outros ecossistemas ricos em recursos que coloca tecnologias de ponta nas mãos das populações locais para salvar a biodiversidade por meio da inovação.

#Floresta amazônica#Brasil#Bacia do Amazonas#Pessoas indígenas#rio Amazonas#Das Alterações Climáticas#Floresta tropical#América do Sul

A Pessoa

O trabalho pioneiro de Carlos Nobre na Amazônia tem sido fundamental para um melhor entendimento das relações entre desmatamento, biodiversidade e mudanças climáticas. Por meio século, ele imaginou e construiu o campo da ciência do clima e aplicou-o com sucesso na Bacia Amazônica. Carlos cresceu na periferia de São Paulo, descendente de imigrantes italianos por parte de mãe e jogador profissional de futebol por parte de pai. Ele já se interessava por questões ambientais quando era adolescente, mas as convenções da época restringiam suas opções de carreira. Sempre pronto para um desafio, ele escolheu o curso mais difícil: engenharia elétrica. Ainda estudante, na década de 1970, teve a chance de visitar a Amazônia em uma época em que o desmatamento era raro. A floresta tropical intacta cativou Carlos e o inspirou a dedicar sua carreira ao estudo, levando a uma mudança da engenharia para a ciência do clima. Após concluir o doutorado em Meteorologia no Massachusetts Institute of Technology (MIT) em 1983, Carlos voltou ao Brasil para ficar perto de sua mãe doente. Ele ingressou no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, onde começou a colaborar em um experimento na Amazônia que se tornaria um marco em sua carreira, um experimento pioneiro britânico-brasileiro de interação floresta-atmosfera. Dois anos depois, ele já participava de grandes projetos científicos na Amazônia com a US National Aeronautics and Space Administration. Carlos voltou aos Estados Unidos para concluir o pós-doutorado na Universidade de Maryland e conduziu seus estudos inovadores sobre o impacto do desmatamento da Amazônia no clima. No início da década de 1990, Carlos liderava a parte brasileira de outro experimento britânico-brasileiro na Amazônia, o Anglo-Brazilian Climate Observations Study, e foi o autor do primeiro relatório do IPCC. Em meados da década de 1990, Carlos estava organizando o Experimento LBA, iniciado em 1999. Os avanços científicos que Carlos avançou ajudaram a aprofundar a compreensão do papel da Amazônia e de seu desmatamento no meio ambiente global. Essas experiências cimentaram a posição de Carlos como uma figura de destaque na área e como um dos cientistas mais importantes do país. Esse reconhecimento abriu as portas para ocupar cargos de liderança em algumas das mais importantes instituições científicas, dentro e fora do Brasil. Isso deu a Carlos uma plataforma para impulsionar a agenda nacional e global no avanço da pesquisa e proteção do meio ambiente. Ele trabalhou para comunicar a ciência complexa das mudanças climáticas a um público mais amplo, usando sua habilidade de contar histórias e influenciar habilidades para informar o debate público e mobilizar diferentes setores. Carlos também fundou importantes instituições para estudar, monitorar e responder às diferentes dimensões do desafio imposto pelas mudanças climáticas, incluindo: o Centro Brasileiro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, o Centro de Ciência do Sistema Terrestre, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas, o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas e a Rede Brasileira de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (uma iniciativa de US $ 15 milhões). Carlos também trabalhou na ciência do governo federal e nas políticas educacionais como presidente da Agência Nacional de Educação de Pós-Graduação. Hoje, ele está alavancando as redes nacionais e internacionais que construiu para projetos piloto de bioeconomia em nível de base. Ao mesmo tempo, Carlos continua a promover pesquisas e políticas em torno das mudanças climáticas em fóruns de alto nível. Ele é membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Mundial de Ciências, e membro estrangeiro da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. Ele também é membro fundador da divisão brasileira do World Resources Institute e foi membro do Conselho Consultivo Científico da ONU para Sustentabilidade Global. Suas tremendas contribuições para a compreensão das mudanças climáticas renderam-lhe vários prêmios além do Prêmio Nobel da Paz, incluindo o Prêmio Ambiental Volvo de 2016, o WWF-Brasil Personalidade Ambiental 2010, a Medalha da Grande Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico de 2010 , Prêmio AAAS de Diplomacia em Ciências, entre outros. Carlos é autor ou coautor de mais de 230 artigos científicos, livros e capítulos de livros, muitos dos quais foram profunda e globalmente influentes.

A Nova Idéia

Carlos Nobre tem se dedicado a mudar a mentalidade em relação às mudanças climáticas e ao valor da Amazônia em todo o mundo. Ele alavancou sua liderança como pesquisador para formar um consenso científico global sobre as causas e impactos das mudanças climáticas e a necessidade de ações urgentes em todo o mundo, especialmente na Amazônia. Seu trabalho de décadas contribuiu muito para elevar e posicionar as mudanças climáticas como uma prioridade política e preocupação pública. Depois de criar pesquisas inovadoras que demonstrassem o ponto crítico além do qual a Amazônia secaria, Carlos decidiu criar a infraestrutura científica, política e cívica necessária para evitar esse cenário. Por um lado, ele criou a espinha dorsal institucional para a pesquisa do clima no Brasil e no exterior, mobilizando e liderando equipes interdisciplinares para produzir dados para influenciar as políticas nacionais e internacionais. Por outro lado, ele trabalhou para aumentar a compreensão da ciência das mudanças climáticas entre formuladores de políticas, empresas e cidadãos, inspirando-os a agir e, ao mesmo tempo, capacitando-os com o conhecimento para fazê-lo. No Brasil, mais de 90% dos brasileiros consideram as mudanças climáticas um ‘risco catastrófico’, segundo pesquisa recente, número muito superior ao de outras economias do mundo. Carlos também desempenhou um papel de liderança no campo da ciência do clima globalmente, especialmente em seu papel como co-presidente do Programa Internacional Geosfera-Biosfera (IGBP) durante 2005-2011 e contribuidor para os relatórios de avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) . Em 2007, Carlos recebeu o Prêmio Nobel por seu trabalho como um dos 127 autores principais do quarto relatório de avaliação, um relatório que criou uma estrutura de ação global a partir da qual os países concordaram em adotar medidas para enfrentar as mudanças climáticas. Carlos está convencido de que existe um caminho sustentável na Amazônia e que não é preciso escolher entre a conservação e a exploração dos recursos naturais (como o desenvolvimento da terra e o uso de seus recursos naturais para agricultura, energia e mineração). Como resultado, Carlos está trabalhando agora para revolucionar o modelo de desenvolvimento da Amazônia e provar que é viável desenvolver um novo modelo de bioeconomia descentralizada, ultrapassando as tecnologias existentes para transformar a região em um centro de inovação de alta tecnologia por meio da Amazônia Iniciativa da Terceira Via (ou Amazônia 4.0). O Amazônia 4.0 usa laboratórios móveis de cocriação para levar tecnologias avançadas ao coração da floresta tropical, capacitando as comunidades locais para aproveitar o conhecimento tradicional de maneiras inovadoras para desenvolver produtos competitivos. Carlos espera que isso mude o sistema econômico local de indústrias destrutivas, como a pecuária, para uma “bioeconomia inclusiva”. Carlos está atualmente concluindo a construção do primeiro Laboratório Criativo da Amazônia para as cadeias de valor do cacau-cupuaçu em quatro comunidades na Amazônia, incluindo comunidades indígenas; três outros laboratórios estão em desenvolvimento. Um desses laboratórios treinará moradores locais em sequenciamento genético de todas as espécies vegetais, animais e microrganismos da Amazônia, utilizando tecnologias de blockchain para facilitar e regular a comercialização global desses dados de forma a garantir justa compensação para as comunidades envolvidas. Isso poderia não apenas aumentar exponencialmente os incentivos econômicos para preservar a biodiversidade, mas também fornecer uma estrutura para que grupos indígenas se beneficiassem de seu conhecimento. Carlos espera que, ao demonstrar sua viabilidade na Amazônia, essas iniciativas sejam replicadas em outras regiões ricas em biodiversidade ao redor do mundo.

O problema

A Amazônia é um dos ecossistemas mais importantes da Terra, abrigando quase um terço de todas as florestas tropicais restantes e entre 10 e 15 por cento de todas as espécies de vida selvagem conhecidas. A biodiversidade amazônica desempenha um papel crítico no apoio aos serviços ecossistêmicos globais, armazenando até 120 bilhões de toneladas de carbono e gerando 15% de toda a água doce que flui para os oceanos. Ainda assim, nos últimos 50 anos, a atividade humana desestabilizou cada vez mais os ecossistemas da região amazônica. Vastas extensões de terra foram limpas para gado e plantações comerciais. Além disso, o aumento das temperaturas devido ao aquecimento global levou a secas mais frequentes e severas. A combinação de desmatamento, temperaturas mais altas e secas mais extremas aumentou a vulnerabilidade das florestas ao fogo e acelerou a mudança climática. Antes da década de 1980, o valor das florestas tropicais não era reconhecido pelo governo nem pela sociedade brasileira. A política para a Amazônia era dominada pela crença de que a conservação era uma barreira para o progresso econômico e havia pouca preocupação com a questão das mudanças climáticas. Praticamente não havia pesquisa de clima no Brasil e envolvimento mínimo na política ambiental internacional. A pesquisa pioneira de Carlos demonstrou os impactos climáticos do desmatamento na Amazônia e o risco de colapso ecológico em escala continental. Sua publicação, que atraiu a atenção de cientistas, legisladores e cidadãos de todo o mundo, pintou um quadro sombrio: as florestas amazônicas devolvem a umidade à atmosfera, regulando as temperaturas e fornecendo uma importante fonte de chuva para o quadrilátero do sul América do Sul. Carlos demonstrou que deixar de conter a degradação da floresta tropical pode aumentar o aquecimento na região em 2 a 3 graus Celsius até 2050. A interrupção do ciclo hidrológico resultante pode levar a um ponto de inflexão na conversão de grandes partes da floresta tropical em savana seca. Esse processo, conhecido como savanização, devastaria a biodiversidade e ameaçaria a subsistência de mais de 30 milhões de pessoas que vivem na Amazônia, principalmente comunidades indígenas. Mas os efeitos da savanização atingiriam muito mais além da bacia, afetando irreversivelmente os serviços ecossistêmicos essenciais para a vida humana em todo o mundo. A redução das chuvas, as estações secas mais longas e extremas e as temperaturas mais altas diminuiriam o abastecimento de água e prejudicariam a produção agrícola, afetando a segurança alimentar em toda a América do Sul. A savanização de grandes porções da Amazônia também resultaria em emissões de mais de 200 bilhões de toneladas de carbono e reduziria o papel crucial da floresta como sumidouro de carbono (agravando assim a mudança climática). Finalmente, a degradação ecológica severa pode aumentar os riscos de propagação de doenças, representando uma ameaça à saúde global.

A Estratégia

Carlos trabalhou em níveis estratégicos nacionais e internacionais para aumentar a compreensão da relação entre a Amazônia e as mudanças climáticas e para construir a infraestrutura técnica e institucional para agir. Sua pesquisa inovadora forneceu evidências críticas de que a Amazônia vale muito mais se for substancialmente preservada do que se a extração destrutiva continuar. Carlos mobilizou a comunidade científica global para informar e assessorar as políticas públicas. Ele liderou grandes experimentos internacionais e interdisciplinares de ciências ambientais na Amazônia. Mais notavelmente, depois de anos de lobby, em 1998 Carlos lançou o Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), o maior programa internacional de ciência ambiental do mundo. Ele uniu uma rede interdisciplinar de 280 instituições globais, incluindo a NASA e a União Europeia, para entender melhor a mudança ambiental global e o papel da Amazônia. O LBA tem contribuído de forma incomparável para a tomada de decisões no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e para a formulação de políticas públicas para o desenvolvimento sustentável na região amazônica. Entre suas principais descobertas, ele lançou luz sobre a importância da Amazônia como sumidouro de carbono e gerador de nuvens e calor, influenciando o clima de vastas áreas do planeta. Este estudo pioneiro - que continua até hoje e envolveu mais de 1.000 pesquisadores - cimentou a posição de Carlos como uma referência global na ciência das mudanças climáticas e da Amazônia. Reconhecendo a necessidade de traduzir o conhecimento científico em soluções práticas, Carlos aproveitou a mídia, eventos públicos e fóruns internacionais de alto nível para comunicar a ciência das mudanças climáticas em uma linguagem que pudesse ser facilmente compreendida por um público mais amplo. Ele aumentou a consciência pública sobre os efeitos do desmatamento nas mudanças climáticas e, inversamente, como as mudanças climáticas podem afetar a Amazônia e seus habitantes. Ao mesmo tempo, Carlos enfatizou uma mensagem de esperança ao se concentrar em caminhos e modelos potenciais para catalisar mudanças sistêmicas. Ao tornar os números relevantes para a vida diária das pessoas e capacitá-las a agir, Carlos desencadeou uma mudança de paradigma na opinião pública que galvanizou campanhas e organizações de base para pressionar por mudanças nas políticas no Brasil. Em nível global, Carlos alavancou a mídia estrangeira para chamar a atenção para o significado universal da Amazônia, o que alimentou a preocupação internacional e colocou os holofotes no Brasil. Os custos políticos e econômicos da pressão externa, combinados com as demandas crescentes de grupos civis, foram decisivos para forçar uma resposta do estado para conter o desmatamento. Isso estabeleceu as bases para políticas de conservação ambiciosas que ajudaram a diminuir a taxa de desmatamento na Amazônia em 75% na década após 2004. Além disso, no âmbito do Programa Internacional Geosfera-Biosfera (IGBP), Carlos foi membro fundador do IPCC e tem participado ativamente nas suas deliberações, expondo as novas implicações das alterações climáticas. Ele serviu como presidente do IGBP por seis anos e definiu sua agenda em nível global. Por exemplo, ele desempenhou um papel importante na coordenação de contribuições científicas para a cúpula da ONU Rio + 20 em 2012, que resultou na criação de um Conselho Consultivo Científico da ONU para melhorar a coordenação entre ciência e política. Carlos foi um dos 26 cientistas indicados para o Conselho, onde assessorou o Secretário-Geral em ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento sustentável. Este trabalho foi essencial para construir um consenso global sobre a ciência das mudanças climáticas, suas causas, principais impactos e as medidas necessárias para combatê-los. Para ajudar a moldar as políticas do Brasil em relação a mais investimentos na Amazônia, Carlos foi o pioneiro e construiu uma estrutura científica que consiste em grandes centros de pesquisa, instituições públicas e redes de pesquisa que transformaram o Brasil em uma potência global em pesquisa e política de mudança climática. Essa infraestrutura institucional melhorou a coordenação entre as organizações e aumentou a colaboração interdisciplinar internacional, levando a dados mais abrangentes para informar a tomada de decisão nos setores público e privado. Ao retornar ao Brasil após seus estudos de doutorado nos EUA no final dos anos 80, Carlos começou apoiando a implementação de novas tecnologias no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais para medir com precisão o desmatamento e incêndios na Amazônia. Seus lançamentos mensais de dados se tornaram um recurso crítico para monitorar o progresso no cumprimento das metas de conservação. Por exemplo, o primeiro Plano de Ação do governo para Prevenir e Controlar o Desmatamento na Amazônia, lançado em 2004, usou os dados de desmatamento e incêndios na vegetação para direcionar seus esforços de fiscalização. Desde que os dados foram divulgados publicamente, eles também permitiram que os cidadãos responsabilizassem todos os níveis de governo, bem como o setor privado, especialmente as indústrias de soja e carne bovina. Para ampliar ainda mais a capacidade técnica do Brasil, Carlos liderou em 1995 a criação do Centro Brasileiro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, que se tornou o mais avançado centro de monitoramento das mudanças climáticas na América Latina e de coordenação de projetos internacionais relacionados ao clima e à Amazônia. . Ele também fundou o Center for Earth System Science em 2008, institucionalizando o campo das ciências do sistema terrestre que vinha constituindo no país ao longo de sua carreira. O Centro expandiu a visão da comunidade científica local para além do clima para abranger várias dinâmicas interligadas que afetam a mudança global e representa o único modelo de sistema que foi adotado pelo IPCC. Para isso, Carlos reuniu equipes interdisciplinares e instituições intersetoriais para orientar a agenda nacional de desenvolvimento sustentável. Durante 2011-2015, na função de Secretário Nacional de Políticas de P&D do Ministério da Ciência e Tecnologia, ele conseguiu consolidar ainda mais a arquitetura institucional para as mudanças climáticas. No início de 2011, o Brasil testemunhou o pior desastre natural de sua história. Enormes deslizamentos de terra e inundações causados por chuvas recordes custaram mais de 900 vidas nas serras do estado do Rio de Janeiro. Isso deu o senso de urgência de que ele precisava para criar o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais. Os alertas precoces sobre os riscos de desastres naturais emitidos pelo Centro são em grande parte responsáveis por uma redução de 80% das mortes causadas por desastres naturais desde então. Depois de deixar o governo, Carlos decidiu se dedicar à criação de um novo empreendimento, o Amazônia 4.0, para abrir caminho para um novo modelo de desenvolvimento para a Amazônia e outras florestas tropicais, a partir de pesquisas que desenvolveu ao longo de sua carreira. A Amazônia 4.0 busca preservar 80% da floresta tropical, ao mesmo tempo que a aproveita como uma fonte de renda que fornece um meio de vida sustentável para as comunidades locais. Embora a Amazônia seja há muito explorada como fonte de matéria-prima, as indústrias locais não criam, desenvolvem ou inovam ideias que agreguem valor. Em vez disso, Carlos busca facilitar uma economia baseada na riqueza biológica da região que permite que as comunidades locais floresçam. Ele está combinando o conhecimento local com tecnologia avançada, como inteligência artificial e blockchain, por meio do Amazon Creative Labs - unidades móveis que reúnem comunidades amazônicas, grupos indígenas, universidades locais e empresas para treinar no uso de tecnologias, co-projetar produtos inovadores, e criar estratégias para alcançar mercados. No longo prazo, o modelo pode ser replicado em outras regiões biodiversas em todo o mundo. Ele estabeleceu as bases para a Amazônia 4.0 em 2016 por meio de um artigo de pesquisa, onde ele defende um novo paradigma de desenvolvimento da "Terceira Via" que transcende o debate atual entre maximizar a conservação versus intensificação da agricultura tradicional e expansão da capacidade hidrelétrica. Ele então começou a desenvolver os conceitos e o modelo em estreita parceria com a Universidade de São Paulo, a Universidade do Vale do Paraíba e várias organizações do setor cidadão (Imazon, Conexsus e Centro de Empreendedorismo da Amazônia), e com o apoio de organizações filantrópicas brasileiras e globais . Em 2019, em parceria com o Imazon (liderado pelo Ashoka Fellow Adalberto Verissimo), Conexsus e a Universidade Vale do Paraíba, Carlos deu início aos trabalhos de construção do primeiro Amazon Creative Lab, com foco nas cadeias de valor do cacau e do cupuaçu. A pesquisa atual inclui o desenvolvimento de “biopeles” com base na composição biológica de espécies indígenas que podem ser reproduzidas em laboratório e que melhoram substancialmente as características dos produtos atualmente no mercado. A construção do Laboratório está prevista para ser concluída até março de 2021 no campus do pólo tecnológico do Vale do Paraíba e será implantada em quatro comunidades da Amazônia, entre grupos indígenas e mulheres produtoras, com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Três laboratórios adicionais estão atualmente em projeto para nozes, óleos de cozinha gourmet e sequenciamento do genoma. O laboratório de sequenciamento do genoma é um laboratório de campo para criar o Bio-Banco de Códigos da Amazônia, um repositório digital de dados genéticos de todas as espécies da região. As comunidades serão treinadas para sequenciar os próprios dados, que serão armazenados usando blockchain para fornecer um meio de regular e rastrear sua geração, acesso e uso. Essa tecnologia tem o potencial de conter a biopirataria ao permitir o registro automático de buscas e downloads, bem como a transferência segura de taxas pagas por usuários de dados, como pesquisadores, empresas e governos, para produtores de dados na Amazônia. O valor projetado dessas informações varia em trilhões de dólares até 2050 - isso tornará os ativos biológicos visíveis e lucrativos, o que cria um incentivo para os governos preservarem a biodiversidade por meio da promoção de novas cadeias de valor. Ao mesmo tempo, o Bio-Banco promoverá justiça social e bem-estar para as populações amazônicas, construindo capacidade local em tecnologia de sequenciamento de genoma, capacitando-os a tomar decisões sobre o compartilhamento de dados e facilitando a compensação justa de comunidades indígenas por sua propriedade intelectual. A iniciativa também tem o potencial de proteger a saúde pública, identificando novas espécies com aplicações biomédicas e permitindo a vigilância de doenças, entre outras aplicações em áreas como engenharia e agricultura. Carlos está testando essa ideia na Amazônia para gerar um roteiro que pode ser dimensionado para outras regiões de alta biodiversidade e, eventualmente, todas as espécies do planeta.