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Valmir Ortega
BrasilConexsus
Ashoka Fellow desde 2021

Valmir criou o Conexsus para atuar como facilitador e conector, preenchendo as lacunas das cadeias de valor para fortalecer uma nova economia, contornando barreiras políticas e econômicas e gerando impacto sistêmico. Com essa abordagem, a Conexsus capacita atores legítimos em seu campo de atuação e estabelece parcerias inovadoras que possibilitam uma nova economia em sintonia com a conservação e regeneração do meio ambiente.

#Sustentabilidade#Desenvolvimento sustentável#Agricultura#Economia#Negócio sustentável#Biodiversidade#Desmatamento#Economia ecológica

A Pessoa

Valmir nasceu em uma família pobre de agricultores que migrou para Mato Grosso do Sul em busca de novas oportunidades. Ele testemunhou ao longo de sua adolescência a transição do território para o negócio da monocultura, outrora ocupado por pequenos agricultores. Para sustentar a família, começou a trabalhar como ourives ainda jovem, o que desenvolveu uma abordagem holística e atenta a tudo o que faz hoje. A escolha de cursar geografia na universidade foi uma tentativa de compreender e dar respostas ao contexto em que vivia. Na universidade, envolveu-se com o movimento estudantil e tornou-se um líder em sua região. Convencido de transformar por meio da educação, Valmir planejava ser professor, mas seus planos mudaram com o convite para implantar no Mato Grosso do Sul uma Secretaria com compromisso com a sociobiodiversidade. Posteriormente, o geógrafo assumiu a missão de recriar a Secretaria do Meio Ambiente, gerir a legislação de recursos hídricos e estruturar o sistema de unidades públicas de conservação. Sua abordagem inovadora e compreensiva o levou a diversas ações públicas no Ministério do Meio Ambiente, IBAMA e Secretaria de Meio Ambiente do Pará, o que foi um importante marco contra o desmatamento na Amazônia. Sempre com perfil técnico e altamente qualificado, as experiências de Valmir no setor público foram essenciais para entender o governo por dentro e construir novas soluções. Em 2010, trouxe toda essa bagagem para ingressar na Conservation International Brazil onde começou a conectar, agora do ponto de vista da organização social, mundos diferentes que não se entendem. Em busca de uma contribuição mais inovadora, Valmir participou do desenho de diversos programas e iniciativas multilaterais com o objetivo de divulgar o potencial de soluções econômicas, sociais e ambientais. Em 2018, surgiu a ideia do Conexsus, com a proposta de ser uma organização facilitadora que cria relações de respeito, empoderamento de atores locais, soluções viáveis economicamente em larga escala e em sintonia com a floresta.

A Nova Idéia

Valmir fundou o Instituto Conexões Sustentáveis – Conexsus – em 2018 como uma organização sem fins lucrativos que ativa o ecossistema de negócios comunitários rurais e florestais para torná-lo viável do ponto de vista econômico, social e da biodiversidade. Suas estratégias se concentram em três principais gargalos de negócios sustentáveis vivenciados por associações, cooperativas e pequenos produtores florestais: acesso a mecanismos financeiros, fortalecimento de modelos de produção e negócios e conexão com mercados. Para respondê-las, Valmir capacita produtores que já estão no campo sem ocupar ou competir por espaço e recursos. A legitimidade e relevância do Conexsus, conquistada em menos de dois anos, vem justamente da rede de parcerias que integra instrumentos financeiros inovadores e constrói pontes entre diferentes setores e organizações (pequenas e médias empresas, mercado, bancos públicos e outros órgãos) ). Ao atuar como facilitador e conector, o Conexsus preenche as lacunas das cadeias de valor para fortalecer uma nova economia, superando barreiras políticas e econômicas e criando um impacto sistêmico. Integrando o desenvolvimento pessoal e empresarial, a Valmir fortalece as capacidades dos líderes para melhor gerir a produção e suas associações, a fim de construir modelos customizados à realidade local e com potencial para aumentar a participação no mercado. Os mecanismos de financiamento da Conexsus trazem soluções híbridas, combinando financiamentos reembolsáveis e não reembolsáveis para permitir que organizações comunitárias alcancem mercados formais, diversifiquem suas fontes de sustentabilidade e alavanquem seus negócios. Os investimentos seguem os modelos de garantias (endosso), recuperação de crédito e empréstimos rápidos de curto prazo. A Valmir está sempre trabalhando como um conector e facilitador do ecossistema. Só trabalhando nessa escala ele acha viável proteger e/ou recuperar a biodiversidade e manter a floresta. Para ampliar o impacto, ele está construindo uma rede de ativadores de crédito que orientam extrativistas e agricultores familiares no planejamento, a fim de obter empréstimos rurais em larga escala; a rede alavancou R$ 4,6 milhões para 17 protótipos de negócios de outros investidores (na proporção de 1:5). Ele também está desenvolvendo modelos de financiamento adaptados a negócios comunitários com o Banco da Amazônia (um banco público). Valmir busca mudar não só o perfil do crédito rural no Brasil para atividades sustentáveis (atualmente utilizadas principalmente para o agronegócio), mas também mudar a atual economia baseada na monocultura e na pecuária.

O problema

De 1988 a 2017, foram perdidos 428 mil km² de vegetação nativa na Amazônia Legal. Em 2020, mesmo com a crescente conscientização sobre os impactos do desmatamento, a situação só piorou. O primeiro trimestre apresentou um aumento de 51% na taxa de desmatamento em relação a 2019; somente em março de 2020, 254 km² de florestas foram derrubados (mais que o dobro da área de Paris). No Cerrado (outro bioma brasileiro), 4.000 km² foram desmatados em 2019. Na Mata Atlântica, bioma que já perdeu quase 90% de sua cobertura original, a taxa de desmatamento aumentou 27% entre 2019 e 2020. O desmatamento é apenas um elemento do ciclo de degradação socioambiental. A cultura atual e os hábitos privados estão enraizados no retorno rápido e na concentração de renda, e não no comprometimento com as questões ambientais. Essa mentalidade também determina as práticas governamentais e empresariais: por exemplo, o tipo de apoio técnico prestado pelos governos priorizando gado e grãos (monocultura), os procedimentos e exigências no acesso ao crédito (para quem tem garantias) e na logística (que prioriza grandes volumes e grandes lucros para os intermediários). Além da perda da biodiversidade e suas consequências globais e locais, isso resulta em um empobrecimento das comunidades rurais, que ficam limitadas a trabalhar com vários desafios ou a ingressar nesse ciclo perverso de destruição (impulsionado pela falta de oportunidades e apoio). Essas comunidades, que preferem preservar seu meio ambiente, muitas vezes ficam com pouca escolha econômica a não ser realizar atividades de baixa produtividade e subsistência, que, por sua vez, são as que enfrentam mais dificuldades no acesso ao crédito e na conexão de seus produtos com o mercado. Embora o trabalho dos pequenos agricultores tenha ganhado reconhecimento em diversas políticas públicas ao longo dos últimos 20 anos, o desafio de conciliar tais atividades com sustentabilidade e rentabilidade mínima para uma vida digna é imenso. Esses pequenos agricultores precisam estar em conformidade com questões legais, fiscais, sanitárias e de marketing e, ao mesmo tempo, competem com a produção de maior volume e uso de tecnologia de empresas maiores. De acordo com o Censo Agropecuário de 2017, com base em dois estados da Amazônia, 88% dos pequenos agricultores não têm acesso a assistência técnica e 83% deles não têm acesso a crédito. Nos últimos quatro anos, a pressão para derrubar a floresta aumentou, enquanto o apoio para quem tenta viver de forma saudável com a floresta foi reduzido, deixando essas regiões já em dificuldades em situação de extrema vulnerabilidade social e ambiental.

A Estratégia

Diante desses problemas, Valmir está fomentando um novo ecossistema de desenvolvimento econômico que preserva a biodiversidade e contribui para a superação da pobreza e da exclusão social. Seu modelo começa com o fortalecimento da capacidade produtiva no terreno com comunidades nativas e instituições locais, incluindo a criação de soluções para acesso ao crédito e ao mercado, oferecendo suporte holístico em larga escala. Valmir começou a testar esse modelo com o Conexsus Challenge: um programa estruturado em três fases e que deu origem à organização em 2018. A primeira fase foi mapear os atores de campo. Para garantir uma boa cobertura e construir legitimidade, Valmir engajou mais de 60 organizações na identificação de cooperativas e associações de produtores de todas as regiões do Brasil, incluindo assentamentos indígenas, quilombolas e de reforma agrária, para garantir um mapeamento amplo e diversificado capaz de compreender os diferentes requisitos de diferentes territórios. Na segunda fase, o programa realizou 13 seminários nacionais em parceria com diversos atores para ouvir atentamente os desafios enfrentados pelas comunidades locais e trocar informações sobre desenvolvimento sustentável com 300 cooperativas (selecionadas após a primeira fase). Na terceira fase, 100 cooperativas foram aceleradas, culminando na mobilização de mais de 80 empresas potencialmente compradoras de seus produtos da sociobiodiversidade. O Conexsus Challenge consolidou a metodologia de marca da organização: trabalhar em conjunto com base em instituições e conhecimentos locais e conectar diferentes setores que não se entendem. Ao fortalecer o ecossistema sem suplantar o lugar de atores legítimos, Valmir não é visto como tendo qualquer inclinação partidária ou política e começou a construir legitimidade e relevância em um curto período de tempo, o que é raro nesse campo. As lições aprendidas estruturaram a organização em três frentes: 1. Desenvolvimento e fortalecimento das capacidades das lideranças socioambientais locais, principalmente gestão de suas organizações socioprodutivas; 2. Promoção de mecanismos de comércio justo para aumentar a renda dos pequenos produtores, valorizando a sociobiodiversidade; e 3. Ampliação do acesso ao crédito e outros investimentos para as cadeias de valor dos produtos da biodiversidade. As três frentes estão interligadas. Para fomentar as capacidades dos produtores locais, a Conexus atua como uma aceleradora, oferecendo treinamentos customizados e metodologias aprimoradas desde o Conexsus Challenge, incluindo aspectos empresariais (gestão, marketing, finanças etc.) e produtivos (tecnologias sustentáveis, crescimento da eficiência etc.). Isso é essencial para prepará-los para o mercado. Segundo, ao garantir produtos sustentáveis de alta qualidade e atrativos ao mercado, a Valmir consegue promover o comércio justo por meio de roadshows, eventos e encontros bilaterais para conectar as duas pontas, fortalecendo toda a cadeia. Ao mesmo tempo, isso não seria possível sem acesso ao crédito. Uma das frentes mais inovadoras do Conexsus é o acesso ao crédito, desafio enfrentado com uma carteira que vai desde o crédito direto às instituições, até o apoio ao acesso ao crédito público. Além de captar recursos, a Conexsus também oferece crédito com condições especiais para negócios comunitários e em cadeias de produtos da sociobiodiversidade por meio da CX Investimentos que é de propriedade integral da Conexsus. Como resultado, a Valmir já entregou mais de R$ 6 milhões em apoio a negócios comunitários. A carteira inclui capacitação e construção de pontes entre produtores e bancos públicos para acesso ao crédito. Por meio de uma parceria com o Banco da Amazônia, a Conexsus quer ampliar para 10% o uso de recursos públicos para atividades produtivas sustentáveis na Amazônia (hoje é inferior a 0,6%). Outra parceria com o Banco do Brasil também está em andamento com o mesmo objetivo. Nos últimos dois anos, as organizações locais apoiadas pelo Conexsus beneficiaram mais de 7.500 famílias, abrangendo um território com mais de 175.000 pessoas impactadas diretamente. O apoio a mil organizações socioprodutivas fortaleceu seu papel de trazer impactos financeiros para seus membros e comunidades atendidas. A CoopCerrado, por exemplo, participou do programa de aceleração. Sua receita em 2018 foi de R$ 2 milhões; em 2021, após dois empréstimos do Fundo Conexsus e participação em roadshows de negócios, a CoopCerrado faturará mais de R$ 7 milhões. Composta por 4.000 produtores locais em cinco estados, a CoopCerrado conseguiu aumentar em mais de 300% a geração de renda dos associados. Além da contribuição econômica, a cooperativa tornou-se a prova de que uma nova economia ambientalmente sustentável é possível. Foi reconhecido com a 12ª edição do Prêmio Equador como uma das 10 melhores iniciativas, um prêmio concedido a cada dois anos aos esforços comunitários para reduzir a pobreza por meio da conservação e uso sustentável da biodiversidade. Com a pandemia, a Conexsus lançou iniciativas emergenciais para responder à crise em parceria com o Banco da Amazônia, incluindo a codesenvolvimento do Plano de Resposta Socioambiental Covid-19, que apoia 82 negócios comunitários que receberam um total de R$ 6,4 milhões, impactando mais mais de 10.500 mil agricultores familiares. Hoje, Valmir está desenhando uma parceria inédita que cria uma rede de ativadores de negócios sustentáveis, acionados pelo Conexsus, com o objetivo de garantir que 4.200 unidades familiares de produção de comunidades tradicionais tenham acesso a R$ 30 milhões em empréstimos públicos, assistência técnica e financiamento Educação. Para o futuro, Valmir quer provar a viabilidade financeira da restauração da biodiversidade em larga escala com pequenos e médios produtores.

Valmir Ortega