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Wellington Nogueira criou uma organização que se dedica a levar felicidade à vida de crianças em hospitais por meio da arte dramática do palhaço. Por meio de seu programa, busca dar a essa forma de expressão artística um caráter predominantemente social, no esforço de humanizar os hospitais brasileiros.
Wellington cresceu no Brasil durante os anos de severo regime militar e censura ativa, o que teve um efeito um tanto sufocante nas artes. Seus pais vieram de famílias pobres no estado de Minas Gerais. Seu pai, que foi uma grande influência em sua vida e a quem Wellington atribui seu dom de humor, era um corretor de imóveis que voltou a estudar para se formar na faculdade aos quarenta anos. Ambos os pais sempre enfatizaram a importância da educação para Wellington e sua irmã mais nova. Impelido por seus pais a desenvolver uma carreira "profissional", Wellington manteve seu interesse de toda a vida no teatro e na atuação como um hobby, até que um dia decidiu que estava deliberadamente (e dolorosamente) enterrando a vocação de sua vida. Mudou-se para Nova York tanto para fugir do ambiente autoritário do Brasil, mas também para ir "aonde estava a ação". Wellington desenvolveu uma carreira profissional respeitável, atuando em musicais e atuando fora da Broadway, enquanto produzia comerciais de televisão. No final dos anos 80, no entanto, dois eventos mudaram o curso de sua vida. A primeira foi uma experiência com a Big Apple Clown Care Unit, onde foi convidado a substituir alguém por um dia e voltou dedicado tanto à profissão de palhaço quanto ao tremendo potencial de impacto que teve na vida de crianças em estado terminal. O segundo evento foi a doença prolongada, hospitalização e eventual morte de seu pai, que proporcionou a Wellington seu primeiro vislumbre do ambiente e das condições de atendimento hospitalar no Brasil e fortaleceu sua determinação de dedicar sua vida a melhorá-los por meio do palhaço. Com a bênção de Michael Christianson, fundador da Big Apple Clown Care Unit, Wellington voltou ao Brasil no final dos anos oitenta para fundar os Doutores da Alegria. Wellington se irrita com a ideia de que está tentando passar o palhaço como uma forma de terapia. Ele acredita que o fato de uma criança em estado terminal deixar um palhaço entrar em sua vida é a maior honra que um ator pode desejar, mas tem plena consciência de que o palhaço não substitui, mas complementa, a saúde equipe de atendimento. Profissionalismo, perseverança e crença no potencial de mudanças positivas na comunidade médica têm sido fatores determinantes para o sucesso de seu trabalho. Wellington ganhou o Prêmio de Cidadania do PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresarais) e recebeu o prestigioso Prêmio Abrinq da Criança em 1997.
Wellington Nogueira pegou uma ideia que remonta a muitos séculos “do poder transformador do humor por meio do clowning” e a aplicou com sucesso pioneiro no contexto brasileiro. Sua organização, chamada Doutores da Alegria, usa palhaços para trabalhar com crianças hospitalizadas, suas famílias e com médicos e enfermeiras em toda a cidade de São Paulo, para aliviar um pouco o sofrimento das crianças e trazer um elemento humanizador para o atendimento hospitalar. Os palhaços de Wellington desafiam as crianças e os pais a olhar para as doenças de uma perspectiva mais brilhante e obter uma melhor compreensão de seus corpos, enquanto trazem humor e alegria para a equação do cuidado. Ao mesmo tempo, ressuscitou no Brasil o modelo clássico europeu de palhaço, caracterizado pelo profissionalismo e atuação cuidadosa. No início de sua carreira de palhaço, Wellington descobriu que para os Doutores da Alegria se firmarem de verdade, ele teria para provar que suas trupes de palhaços em hospitais eram mais do que simplesmente uma diversão esporádica para as crianças e podiam, de fato, ser um fator-chave em seus cuidados. Ele idealizou um modelo com a administração e a equipe do hospital onde os Doutores da Alegria seriam uma presença estável e frequente, vindo duas a três vezes por semana em horários regulares para se encontrarem individualmente com as crianças. Agora, nos hospitais onde atuam, os palhaços passaram a fazer parte da equipe de saúde. Eles trabalham em estreita colaboração com médicos, enfermeiras e psicólogos. Essa parceria incentiva a equipe a focar no paciente e na família e a introduzir um elemento humano e individual em um ambiente que muitas vezes pode ser impessoal e difícil para o paciente e o médico, principalmente nos casos em que a criança tem uma doença incurável.
A permanência no hospital pode ajudar a melhorar a situação clínica da criança, mas também pode gerar problemas mais difíceis de detectar. Foi documentado que o próprio processo de hospitalização causa seus próprios sintomas e traumas relacionados, especialmente em casos crônicos que requerem longas e repetidas internações hospitalares. Embora na América do Norte haja uma consciência crescente e alguma aceitação do valor de fatores não tradicionais e "não científicos" no processo curativo, a comunidade médica no Brasil está apenas começando a se abrir para essa linha de pensamento. Wellington e outros envolvidos na humanização do atendimento no Brasil têm o desafio adicional de sensibilizar a comunidade para essas questões, principalmente com foco nas escolas e associações médicas, onde têm maior potencial de conscientização. Em um país como o Brasil, onde enormes hospitais públicos - muitos em mau estado de conservação - são a norma e os profissionais médicos recebem salários modestos, os obstáculos a serem superados são múltiplos. No entanto, à medida que seus convites para participar de congressos e simpósios médicos aumentam a cada mês, Wellington acredita que a comunidade médica está lentamente se tornando mais aberta ao trabalho de grupos como os Doutores da Alegria. Ele espera que os profissionais de saúde comecem a examinar alternativas que busquem melhorar as relações humanas no mundo médico atual que, em nome do progresso científico, construiu uma relação médico-paciente em grande parte impessoal.
Cada criança em um hospital compartilha algo em comum: elas querem estar fora de casa, brincando e rindo com outras crianças e levando uma vida normal. Wellington trabalha para ajudar as crianças a redescobrir essa alegria, sempre que possível, no ambiente hospitalar, já que o próprio ato de brincar e rir pode ajudar o paciente a se recuperar ou aliviar a dor de uma doença grave. Pesquisa realizada pela psicóloga Morgana Masetti no Brasil documentou os efeitos benéficos que a interação com palhaços traz para crianças, pais e profissionais de saúde. Wellington trouxe seu modelo para o Brasil no início dos anos 90, quando o apoio ao setor social, sem falar nas artes, estava em baixa devido à inflação vertiginosa e um governo à beira de um escândalo de corrupção. Começou trabalhando meio período em um pequeno hospital, Nossa Senhora de Lourdes, em São Paulo, em um ambiente hostil às artes em geral e cético quanto ao benefício social dos palhaços em particular. Desde então, Wellington formou uma organização com financiamento multianual e multimilionário e uma sofisticada estratégia de spread de longo prazo. Ele ganhou a atenção dos principais veículos de comunicação do Brasil, atraiu apoio em espécie e monetário de importantes patrocinadores corporativos e ganhou o respeito e o apoio dos mesmos administradores de hospitais que desprezaram sua ideia no início. A ideia fundamental de Wellington é colocar os palhaços à disposição das crianças, para que elas possam retomar o controle sobre suas próprias vidas e corpos, elemento frequentemente perdido no processo muitas vezes invasivo e traumatizante de uma internação hospitalar. Assim que o ator visita a criança e pede permissão para entrar na sala, começa a interação criança-palhaço. O "roteiro" de cada visita é improvisado pela criança e pelo ator (embora, para o ator, isso requeira orientação e treinamento significativos). Isso dá início a um processo de conscientização e socialização que ajuda as crianças e, muitas vezes, a família a enfrentar a doença e lidar com ela juntos. Também proporciona às crianças momentos de felicidade que trazem o seu lado mais saudável à tona. Os Doutores da Alegria já afetaram a vida de milhares de crianças em toda a cidade de São Paulo - resultado que vem sendo documentado por cuidadosas pesquisas. Tão importante quanto isso, está começando a mudar a maneira como médicos, enfermeiras e administradores veem seu papel no processo curativo. Em 1998, mais dois hospitais no Rio de Janeiro e outro em Campinas, no estado de São Paulo, vão aderir ao programa. Embora a demanda por palhaços supere em muito a oferta, Wellington pretende adicionar apenas dois novos hospitais ao programa a cada ano, ciente de que o entusiasmo pelo programa não deve obscurecer a necessidade de um treinamento cuidadoso e rigoroso para torná-lo verdadeiramente bem-sucedido. Com uma série de iniciativas de longo prazo, incluindo um centro de pesquisa recém-formado e um local de treinamento, Wellington planeja sistematizar o aprendizado, treinar mais palhaços, trabalhar com estudantes de medicina e continuar a ampliar a mensagem de educação pública de seu trabalho de que artistas profissionais podem trazer um novo significado para a vida das crianças nos hospitais. Com anúncios na televisão em programas infantis nacionais, Wellington planeja começar a enfrentar o desafio dos cuidados preventivos. O centro de estudos de humor e saúde de Wellington é voltado para futuros médicos, estagiários e enfermeiras. Seu objetivo é capacitá-los como multiplicadores que vão abraçar novas atitudes e diferentes opções de tratamento de crianças doentes no ambiente hospitalar. Por meio de uma estratégia de mídia sofisticada, Wellington também planeja usar os Doutores da Alegria como um meio de disseminar mensagens de prevenção de saúde para crianças. "Shorts" sobre assuntos como elementos básicos de higiene, nutrição e vida saudável serão incorporados à programação infantil nacional. Com o tempo, Wellington espera estender o impacto do humor na saúde a outras populações carentes, como idosos e deficientes mentais.