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Eliana Sousa Silva
BrasilAshoka Fellow desde 1999

Eliana implementou um mecanismo que oferece oportunidades de educação e trabalho de alta qualidade para moradores de favelas da classe trabalhadora e sem instrução no Brasil urbano, estabelecendo instituições administradas por residentes projetadas para criar grupos de cidadãos ativos.

#Rio de Janeiro#Favela#Ensino médio#Recife#Brasil#Salvador bahia#Escola particular#Rocinha

A Pessoa

A família de Eliana mudou-se da Paraíba, no Nordeste do Brasil, para o Rio de Janeiro quando ela tinha sete anos. Radicado na favela de Nova Holanda, seu pai era muito rígido e exigia que todos os cinco filhos estudassem muito. Aos quinze anos, ela foi escolhida para fazer parte de um grupo patrocinado pelo centro de saúde comunitário que analisava os problemas sociais do bairro por meio de pesquisas quarteirão a quarteirão com os moradores. O grupo se reuniu e discutiu os desafios socioeconômicos comuns; Eliana estava mais interessada em encontrar soluções. Depois de perceber que algumas crianças que estavam na escola há sete ou oito anos ainda eram analfabetas, ela negociou com os professores da rede pública e organizou aulas de reforço escolar. Ela frequentou a universidade e estudou artes liberais, dando aulas de alfabetização de adultos paralelamente. Pouco antes de se formar, ela leu no jornal sobre as primeiras eleições da Associação de Moradores ocorridas na Rocinha, uma favela da Zona Sul do Rio. Eliana pesquisou os estatutos do processo eleitoral e determinou que a Nova Holanda também se beneficiaria com as eleições abertas. Reunindo paróquias e pessoas que trabalharam com ela no projeto de pesquisa social, Eliana lançou sua própria campanha para presidente da Associação de Moradores de Nova Holanda e conquistou com mais de mil votos em dezessete mil votos. Eliana tinha apenas 22 anos na época de sua eleição e serviu como presidente de 1984 a 1987. Seu principal objetivo era a reforma educacional, mas ela descobriu que o primeiro item de sua agenda tinha que ser o resgate da decrépita infraestrutura física da favela , para garantir que os residentes fiquem e invistam no seu futuro e no futuro da comunidade como um todo. Sua primeira grande conquista como presidente, então, foi convencer a companhia elétrica a instalar postes de alta qualidade em Nova Holanda. Sua segunda façanha foi melhorar o saneamento; ela colaborou com a CEDAE, o departamento de água e resíduos, para colocar em canos de esgoto onde não existia antes e até mesmo para instalar uma estação de tratamento de resíduos. Ao longo de sua presidência, Eliana aprendeu a negociar com os setores público e privado, a redigir e apresentar propostas e a administrar pessoas. Após uma bem-sucedida gestão como presidente, Eliana tornou-se Diretora de Educação da Associação de Moradores. Posteriormente, fez mestrado em educação pela Pontifícia Universidade Católica, após o qual se tornou professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Olhando ao redor da universidade, ela viu poucos alunos de sua formação porque a maioria deles não conseguiu passar no vestibular. Pesquisou programas de preparação para exames em toda a cidade do Rio de Janeiro. Em 1995, ela reuniu um grupo de colegas locais e decidiu lançar o CEASM.

A Nova Idéia

O centro de pesquisa e ação de Eliana, CEASM (Centro de Estudos e Ação na Maré), transforma as favelas brasileiras ou a perspectiva dos moradores da favela sobre seus desafios sociais, econômicos e políticos, transformando a concepção dos moradores sobre a favela de uma comunidade temporária em um grupo de cidadãos com direitos aos principais serviços públicos e infra-estrutura. O modelo de Eliana tem três componentes. Em primeiro lugar, um rigoroso curso preparatório para o vestibular leva os alunos à competência universitária em poucos meses e, simultaneamente, ensina-lhes cidadania e responsabilidade social. Os professores são moradores da favela e se formaram na faculdade. Eles atuam como modelos para os alunos e pessoas instruídas recebem uma chance única de um emprego lucrativo e gratificante que retribui a eles. apresentando-os a tutores que falam sobre a faculdade durante os programas extracurriculares, como arte, teatro, dança e esportes. O terceiro componente do CEASM atende diretamente toda a população por meio de sua biblioteca e atividades de pesquisa que enfocam os problemas socioeconômicos locais e atraem especialistas de universidades do Rio de Janeiro.

O problema

O trabalho de Eliana aborda vários problemas inter-relacionados que o Brasil enfrenta. A cada ano, o número de imigrantes no Rio de Janeiro aumenta devido ao desemprego e à pobreza no Nordeste do Brasil. A maioria dos migrantes pobres assume o que esperam ser residências temporárias em uma das seiscentas favelas do Rio de Janeiro. Mas, devido à falta de educação, muitos encontram apenas empregos servis que não permitem um padrão de vida que permita escapar da vida na favela. Das seiscentas favelas do Rio de Janeiro, apenas cerca de cem têm uma infraestrutura esquelética de eletricidade e prédios escolares. Mais da metade dos moradores de favelas são migrantes de primeira ou segunda geração do Nordeste do Brasil. Enquanto a educação oferece uma saída para a vida na favela, na Maré, onde fica o CEASM, existem apenas quatorze escolas públicas de ensino fundamental e duas escolas públicas de ensino médio atendendo a toda a população. A taxa de analfabetismo na Maré é de 18,6%, ante 6,10% na cidade do Rio de Janeiro. A porcentagem de "chefes de família com mais de quinze anos de estudo" é inferior a 1%, em comparação com 16% no Rio. Outro problema educacional sério é sistêmico: os professores das escolas públicas são designados para os locais de trabalho por sorteio; assim, os professores têm pouco investimento na comunidade. As universidades estaduais são gratuitas, mas o ingresso é altamente competitivo. O vestibular para os programas de graduação no Brasil é tão difícil que até os alunos do ensino médio privado têm dificuldade para passar, e costumam tirar um ano de folga para estudar. O teste cobre todos os assuntos, incluindo matemática e física avançadas. Existe também uma grande lacuna cultural entre os universitários típicos e os das favelas, o que ameaça o sucesso de suas carreiras mesmo quando passam no teste. Os poucos afortunados moradores de favelas que conseguem estudar não veem oportunidades de emprego em suas comunidades. Sem uma motivação para criar raízes, uma rápida "fuga de cérebros" leva pessoas com diploma universitário para fora do bairro.

A Estratégia

A estratégia de Eliana é baseada no desenvolvimento de uma base de recursos locais. Ela identificou vinte pessoas da favela que haviam se formado na faculdade e desejavam ser formadas como professoras. Ela localizou a sede do CEASM no coração da favela e montou cursos. O currículo preparatório para a faculdade do CEASM cobre quatro anos de trabalho no ensino médio em menos de doze meses. As aulas acontecem quatro horas por noite e meio dia no sábado. Em 1998, noventa alunos concluíram o curso e quarenta e um passaram no teste. Trinta e nove alunos cursaram universidades públicas e dois se inscreveram com bolsa de estudos na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, a melhor faculdade particular da cidade. Dos quarenta e nove que não passaram na primeira vez, todos voltaram para tentar novamente. O treinamento é sobre o ensino de habilidades avançadas de pensamento. Os professores do CEASM pressionam os alunos a examinar dados, fazer hipóteses e apoiar seus argumentos não apenas para que possam passar nos exames iniciais, mas, mais importante, ter sucesso na faculdade. Acostumados a receber o segundo melhor, os alunos reconhecem e respeitam que o CEASM exige a mais alta qualidade de seus professores e alunos. Os cursos também enfocam questões locais. Seja discutindo política, linguagem ou ciência, o curso utiliza dados locais para refletir sobre a realidade das experiências dos alunos. Isso torna o material relevante, restaura um sentido da história do bairro e incentiva os alunos a investirem em sua comunidade durante a escola e depois como profissionais. Os ex-alunos das turmas preparatórias para o vestibular do CEASM formaram um clube e se reúnem regularmente, não apenas para apoiar uns aos outros, mas também para desenvolver atividades em benefício da vizinhança. Além das aulas de preparação para a faculdade, o CEASM oferece cursos básicos e avançados de informática, matriculando 160 alunos. A capacidade de Eliana de construir o sentido de cidadania está relacionada com o facto de o CEASM empregar mais de setenta pessoas, das quais 90 por cento são residentes. A organização busca outras fontes de emprego para seus alunos, bem como para membros da comunidade em geral. Uma oportunidade de emprego surge por meio do Censo, no qual as pessoas são treinadas para fazer pesquisas socioeducativas casa a casa. Os alunos e funcionários do CEASM produzem um jornal mensal denominado "O Cidadão". As empresas locais apóiam o jornal com anúncios. O Cidadão, com tiragem de cinco mil exemplares, promove as atividades educacionais e culturais do CEASM e mantém o bairro informado. A sustentabilidade das ideias de Eliana é garantida por meio de contribuições e parcerias da comunidade. Ela formou parceria com o Departamento de Línguas Estrangeiras da Universidade Federal do Rio de Janeiro para fornecer currículo em inglês, espanhol e francês para trezentos alunos. Parcerias com a concessionária Petrobras, Prefeitura do Rio de Janeiro, Fundação Osvaldo Cruz, Fundação Bento Rubião, governo federal, universidades locais e Consulado Britânico também apoiam os programas do CEASM. O Consulado do Canadá ajudou o CEASM a comprar o prédio da sua sede. Para aumentar a apropriação da comunidade, o CEASM vai pedir uma doação de cinco dólares por morador, com o objetivo de garantir contribuições de 2 por cento da população da Maré. Cada doador pode especificar quais programas ele deseja que sua doação cubra. A estratégia de disseminação de Eliana está levando em consideração a infraestrutura esquelética disponível em outras favelas e implementará programas onde eles terão maior probabilidade de se enraizar em outras partes do Brasil. A Universidade Federal do Rio de Janeiro quer replicar seu programa e quer aumentar a matrícula de alunos de baixa renda.